Remédios e álcool podem ser uma combinação perigosa

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Se você anda adoentado, tomando algum tipo de medicamento, mas não quer perder de jeito nenhum a cervejinha de final de semana com os amigos, é melhor se segurar um pouco e deixar a farra para quando sarar. É consenso entre os médicos recomendar o não consumo de bebidas alcoólicas enquanto o paciente estiver fazendo uso de remédios, pois a interação entre as substâncias podem causar reações adversas, dependendo da classe da droga prescrita e do organismo de cada pessoa.

Como cada um reage de forma diferente ao uso de determinados medicamentos, é melhor ser precavido e não abusar da saúde; embora, segundo dados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apenas 17% dos medicamentos possam causar danos se consumidos com álcool. Porém, 15% podem gerar combinações graves, com risco inclusive de morte.

A interação álcool/medicamentos pode potencializar ou diminuir o efeito do remédio, mas existem riscos mais sérios dependendo se for, por exemplo, antibióticos, analgésicos, anti-inflamatórios, anti-hipertensivos, para combater o colesterol alto, entre outros. A combinação fica ainda mais arriscada se envolver antidepressivos e calmantes.

“Sabemos que o álcool é uma substância que pode interagir com vários outros medicamentos, além de ser um depressor do sistema nervoso central”, comenta a professora da UFRN Célia Aguiar, presidente do Conselho Regional de Farmácia do RN. “É muito mais inteligente e muito mais salutar que a pessoa faça a adesão à terapêutica ministrada pelo profissional médico, ou outro prescritor habilitado, e durante o período em que ele estiver fazendo uso do medicamento, evite o uso de álcool.”

Ela porém ressalta as propriedades do álcool como antibacteriano de superfície e desinfetante, principalmente se associado ao iodo.

“O álcool é muito utilizado na farmácia e na medicina. Na parte recreacional, faz parte da cultura do brasileiro e de muitos povos. E nas festas e nas brincadeiras, ele está sempre presente. Mas a saúde não tem preço, tem é custo”, conclui a farmacêutica.

Pacientes têm dúvida se o álcool corta efeito do remédio

Quando prescreve algum medicamento aos seus pacientes, o infectologista Antônio Araújo diz ouvir, quase sempre, duas perguntas básicas, principalmente se for um antibiótico: “Se eu beber corta o efeito?” ou “Posso beber quantos dias após acabar o remédio?” Isso pode demonstrar o quanto muitas pessoas estão preocupadas com o álcool… Ou com a falta dele em seus momentos de lazer.

O problema, de acordo com o médico, é que é justamente no fígado onde acontece a metabolização das substâncias tanto do álcool quanto dos medicamentos. O órgão entra em conflito e, a grosso modo, é como passasse a haver uma espécie de competição nesse processo, gerando “sofrimento das células” e alguns danos ao organismo.

A bebida não corta o efeito do antibiótico; como explica Antônio Araújo; mas diminui a concentração das substâncias medicamentosas no sangue. Existem, porém, remédios não metabolizados pelo fígado e cuja a ingestão de bebidas alcoólicas pouco interfere. “Mas é sempre bom lembrar que o álcool é muito tóxico para o cérebro, para o fígado e para o tubo digestivo, com efeitos nocivos em cada um deles.”

O mais sensato, na verdade, é evitar a ingestão de bebidas alcoólicas enquanto estiver se tratando com algum medicamento, sejam estatinas (usadas no tratamento do colesterol alto), antifúngicos (contra micoses e manchas na pele), macrolídeos (antibiótico bactericida), ou até mesmo anti-inflamatórios, ansiolíticos, antidepressivos, barbitúricos, analgésicos. “Esses últimos potencializam o efeito do álcool”, comenta o médico.

Os portadores de doenças crônicas que também sofrem de alcoolismo correm risco ainda maior, inclusive de adquirir uma pancreatite aguda, e daí podendo até mesmo ir a óbito. Essa classe de paciente toma medicamentos específicos diariamente.

Os doentes crônicos, como hipertensos e diabéticos, que desejarem “tomar alguma coisa” durante os fins de semana, por exemplo, devem dar um espaço de tempo da ingestão do comprimido até a primeira dose, como indica Antônio Araújo.

“Eles podem tomar sua bebida de forma social. Os diabéticos têm que tomar muito cuidado para não ter hipoglicemia, pois pode levar até mesmo a convulsões”, recomenda o médico, enfatizando que o melhor conselho ainda é a moderação.

– Quais as consequências do uso combinado de medicamentos e álcool?

O álcool tem que ser encarado como uma substância depressora do sistema nervoso central, e farmacologicamente ele é usado como antisséptico e como veículo de vários medicamentos. Mas muitas vezes as pessoas não entendem que o álcool ao ser utilizado concomitantemente com medicamentos pode acelerar ou diminuir o efeito deles. Podemos citar o seguinte exemplo: junto com anticoagulantes, o álcool vai exacerbar o efeito anticoagulante; e a pessoa vai ter sangramentos. Isso acontece com marevan, coumadin e outros do gênero, derivados de varfarina. Nos ansiolíticos, tipo benzodiazepínico, ele aumenta o efeito sedativo, podendo levar risco de coma, inclusive de insuficiência respiratória. Quando você faz uso de anti-inflamatórios junto com álcool, vai ocorrer a possibilidade de transtornos gastrointestinais, sangramento, irritação, formação e exacerbação de úlceras gástricas, pois faz parte do mecanismo de ação dos anti-inflamatórios medir as prostaglandinas, que são substâncias que protegem a camada do estômago. Outro exemplo é quando a pessoa tem problema de etilismo, alcoolismo, e faz uso de medicamentos como dissulfiram ou antabuse; a pessoa sente náuseas, enjoos, dor de cabeça, palpitações, hipotensão. Tudo o que a gente sente quando tem uma ressaca braba é potencializado. Temos que encarar que o álcool, culturalmente, é bastante utilizado pela população de forma recreacional; mas ele é um fármaco que interage com outros fármacos.

– E o álcool realmente corta o efeito do remédio, como costumam dizer?

Não corta. O que a gente observa é que com alguns antibióticos diminui o efeito do medicamento e aumenta o efeito hepatotóxico desse produtos. Você percebe isso com o cetoconazol, a isoniazida, neomicina. Outros antibióticos como metronidazol, que tem no Flagyl, Trimetoprim-sulfametoxazol, que tem no Bactrim, dão o mesmo efeito do antabuse. E outra coisa: não é inteligente nem é correto uma pessoa que está com uma doença infecciosa fazer uso de antimicrobiano ou um antibiótico e querer fazer uso recreacional do álcool. A pessoa tem que se conscientizar que está doente!

– E o que dizer desses produtos que são vendidos para evitar ressaca, indicados para serem tomados antes e depois de beber?

Na verdade, também são medicamentos. Não é a primeira vez que me perguntam isso. Quantas e quantas vezes a gente vê até na televisão, nos jornais, em certas propagandas, mandando tomar um comprimido antes e um depois. Aquilo ali é uma bomba de analgésico; e o álcool aumenta o efeito sedativo. Na bula, inclusive, tem ASS. Quem tem gastrite vai ter irritação gástrica e há a possibilidade de sangramento intestinal. Está na cabeça de alguém tomar uma bomba de medicamentos antes e depois de beber ? Acho que não!

Fonte: Tribuna do Norte

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