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Fernanda Aranda – O Estado de S.Paulo
O índice de mulheres reprovadas no teste do bafômetro durante as blitze da lei seca na capital paulista cresceu vertiginosamente. Levantamento feito pela Polícia Militar (PM) a pedido do Estado mostra que, em janeiro, 5,16% das motoristas que foram paradas pela fiscalização haviam bebido antes de pegar o volante. Em outubro, esse porcentual passou para 38,6%, quase quatro em cada dez fiscalizadas.
Os dados mostram que a evolução de embriagadas na direção é praticamente constante mês a mês. Em contrapartida, o número total de detectados pelos aparelhos que medem a dosagem de álcool no sangue está em declínio – passou de 11% para 4%.
A alta feminina nos flagrantes das operações é impulsionada por dois fatores principais. O primeiro – e responsável direto, acreditam os especialistas – é a mudança recente na forma de fiscalizar a lei seca. Até o primeiro semestre de 2009, a PM organizava as operações de fiscalização de forma aleatória.
Nem todos os carros que passavam pelos locais das blitze eram abordados e só fazia o bafômetro quem tivesse sinais de embriaguez. Há cinco meses, porém, a estratégia mudou e as mulheres, portanto, deixaram de ser “invisíveis” para os homens que fazem a fiscalização.
O segundo fator para o aumento de embriagadas identificadas é que as mulheres estão consumindo mais álcool, o que também aumenta o comportamento de risco.
O ministro das Cidades, Márcio Fortes, que coordena o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), afirma que as motoristas são mesmo usadas como escudo para fiscalização. “Esse aumento de mulheres flagradas, para mim, indica que elas estavam sendo usadas como truque para driblar a lei seca. Um aproveitamento da imagem de que a mulher não bebe e passa batido pelos fiscais”, afirma.
Nos bares, os namorados, acompanhantes e amigos confirmam a tese do ministro. Eles não se intimidam em dar a chave do carro às mulheres, ainda que tenham bebido, com a certeza de que passariam com mais tranquilidade nas blitze. Entretanto, o novo método de fiscalização – chamado esquema “drive thru” – dificulta a manobra. Agora, a PM aborda todos os automóveis que trafegam pela via, independentemente do sexo de quem está no volante. “A maioria dos abordados ainda é homem, mas as mulheres cada vez mais são paradas”, afirmou o capitão da PM Sérgio Marques, responsável pelas blitze.
Quanto ao fator saúde, as pesquisas mais recentes mostram maior prevalência do hábito de beber entre as mulheres e aí está um outro motivo para o crescimento delas nos números de alcoolizados ao volante.
Um dos levantamentos que endossa a invasão feminina nos índices de alcoolismo, feito em instituições públicas de tratamento de São Paulo, aponta que em dois anos cresceu em 80% as que buscam consultas por vício em bebida alcoólica.
“Elas estão mais presentes nos bares, nos consultórios clínicos e também nas pesquisas sobre o tema”, confirma o presidente do Centro de Informações Sobre o Álcool (Cisa) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Arthur Guerra. “Todas as idades aparecem como foco do problema. As mais novas querem ficar alteradas para ter diversão a qualquer custo, com um prejuízo de autoimagem altíssimo. E as de meia idade buscam o álcool por alguma insatisfação pessoal, solidão e problemas pessoais.”
Dessa forma, as mulheres bebem mais socialmente e também aparecem mais nas estatísticas dos problemas associados ao álcool. Levantamento feito em instituições públicas de tratamento de São Paulo aponta que cresceu em 28,8% as mulheres das classes econômicas A e B (que ganham acima de 15 salários mínimos por mês) em tratamento por vício em bebida alcoólica.
Não é a única estatística sobre essa tendência. Entre as garotas com menos de 18 anos, o mesmo fenômeno é atestado. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), ligado à Unifesp, 6,4% das moradoras de São Paulo entre 12 e 17 anos apresentam sinais de dependência do álcool. Nos garotos da mesma idade, o índice é de 4,9% – com base em uma pesquisa com 4.117 entrevistas.
Violência
O reflexo de mais mulheres com o hábito nocivo de beber já impacta no perfil de mortes violentas, lembra o sociólogo da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo Túlio Kahn. Enquanto no ano 2000 elas respondiam por 12% dos casos que englobam mortes por assassinatos e também batidas de veículos, em 2008 o grupo feminino passou para 25%.