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É importante esclarecer que um alcoólatra não precisa obrigatoriamente ser internado para se tratar: cada caso é um caso e hoje existem outros modelos de tratamento. Mas é preciso alertar que o álcool embriaga a família. “A doença gera ansiedade e desagregação na família, que dificilmente sai do problema sozinha”, explica Fátima Rato Padin, psicóloga com especialização e mestrado na Unifesp.
Os grupos de ajuda mútua, como Amor Exigente e Al-Anon, segundo Fátima, têm filosofias próprias e não servem para todos. Mas a família não deve desistir porque procurou ajuda e não deu certo. “Ela deve procurar profissionais especializados em dependência química, que vão acolher sua angústia, fortalecê-la e orientá-la, para que ela possa levar o alcoólatra a se tratar”, diz Fátima, que salienta que os tratamentos não podem ser iguais porque as pessoas têm graus de dependência diferentes.
Fátima coordena o Alamedas, Núcleo de Reabilitação Psicossocial da Uniad, em São Paulo – um serviço ambulatorial de atenção diária iniciado em 2008, que coloca uma equipe composta por psicólogos, médicos, terapeutas ocupacionais, acompanhantes terapêuticos, psicopedagoga e neuropsicóloga trabalhando pela reintegração social do dependente químico.
Esse atendimento é realizado conforme a disponibilidade financeira e de horários do paciente.
Para o dr. Laco, do Comuda, a família adoece junto e muitas vezes deixa o alcoólatra chegar ao estágio mais avançado da doença. Os sintomas que indicam que a situação está grave são: tremores nas mãos pela manhã; problemas de memória, concentração e raciocínio; queda de produtividade, dores diversas (como abdominal e muscular); e manchas pelo corpo, que podem evidenciar problemas hepáticos. “É comum o homem falhar sexualmente, ou mesmo ficar impotente temporariamente nessa fase”, afirma o dr. Laco.
“E quando eles saem da clínica continuam em recuperação e podem ter dificuldades de memória, de concentração e de restabelecimento do convívio social por um bom tempo. Internação é para 10% a 20% dos casos. O que a família precisa entender é que não adianta negar ou minimizar o abuso do álcool que está causando problemas e muito menos acreditar que tudo mudará magicamente, ou que ninguém mais percebe o que está acontecendo.”
Romolo Gresta, economista de 62 anos, é um caso raro, pois parou de beber há cinco anos sem qualquer tratamento. Ele consumia uísque, cerveja e cachaça em grandes quantidades desde os 14. Quando seu filho Remo, do segundo casamento, tinha oito anos, deu-lhe um bom motivo para parar e pensar: “Eu moro em Niterói, e o Remo, em Minas”, conta Romolo. Ele estava me visitando e eu quis levá-lo a uma lanchonete, mas ele disse que eu tinha bebido muito e ele não queria pagar mico.
Respondi que ele nunca mais me veria beber – e cumpri isso a partir do dia seguinte”. Romolo sentiu muita falta do uísque nos primeiros meses, mas percebeu também que nunca saía com uma mulher sem beber e jamais viajava sem conhecer todos os bares do lugar. Hoje ele só toma água mineral com gás, gelo e três fatias de limão. “Eu curto muito mais, fico até tonto! Tudo ficou melhor sem álcool, desde o sexo até dormir e comer. Meu filho está orgulhoso e outro dia me liberou para uma cervejinha. Mas eu não sei beber. Tenho certeza que, se tomar uma dose, vou embora…”
*”Nos últimos anos, especialistas vêm adotando os termos alcoolista e alcoólico para substituir a palavra alcoólatra que, segundo eles, carrega em sua etimologia o sentido estigmatizante de “adorador” do álcool.s
Fonte: Revista Brasileiros – Alice Sampaio