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Pesquisadores australianos conseguiram reduzir em 20% o consumo de álcool entre adolescentes por meio de um programa que busca conscientizar os jovens, de forma lúdica e sintonizada com a sua realidade, sobre os riscos associados ao excesso de bebida. A metodologia está sendo adaptada para as escolas brasileiras por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo Ana Regina Noto, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substâncias (Nepsis) do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, a ideia de desenvolver a versão brasileira do School Health and Alcohol Harm Reduction Project (SHAHRP), implantado com sucesso na Austrália, surgiu após a conclusão de uma pesquisa de seu grupo, divulgada em 2010, que revelou índices alarmantes de consumo de álcool entre alunos do 8º e 9º anos do ensino fundamental.
De acordo com o levantamento, 40% dos 5.226 entrevistados de escolas privadas paulistanas haviam bebido no mês anterior ao questionário – sendo que 33% em um padrão considerado nocivo e conhecido como binge – quatro ou mais unidades de álcool para mulheres e cinco ou mais para homens em uma única ocasião.
“O que esse projeto tem de diferente é o fato de apostar na capacidade do adolescente de fazer escolhas mais seguras quando estimulado a isso. O programa incentiva o estudante a tirar suas próprias conclusões em vez de simplesmente tentar ensiná-lo a dizer ‘não’ como uma opção predefinida. Talvez por esse motivo, o SHAHRP apresenta melhores resultados quando comparado a muitos outros do gênero”, disse Noto.
Com base em evidências científicas, acrescentou Noto, o programa parte do pressuposto de que situações de uso de álcool entre adolescente ocorrem – muitas vezes com a anuência da família –, embora a venda de bebida para menores de 18 anos seja proibida por lei. “Por esse motivo, é preciso abrir espaço de conversa sobre essas situações”, disse.
“Pesquisas anteriores mostraram que as abordagens baseadas simplesmente em convencer o jovem a não beber eram falhas. Muitas vezes tinham até impacto negativo, causando aumento do consumo em vez de redução. Decidimos tentar algo diferente”, contou Nyanda McBride, pesquisadora do National Drug Research Institute, da Austrália, e uma das idealizadoras do SHAHRP.
Antes de desenvolver a metodologia, McBride entrevistou professores e especialistas em prevenção e conversou com os estudantes. O objetivo era conhecer onde, como e com quem eles costumavam ingerir álcool, bem como as situações de risco às quais estavam expostos.
“Se vocês nos disserem para não beber vamos simplesmente desligar nossos ouvidos, pois não é assim que queremos viver nossa vida, nos avisaram os jovens”, disse a pesquisadora australiana à Agência FAPESP.
McBride então desenvolveu uma estratégia de intervenção para ser aplicada nas escolas dividida em duas fases. Na primeira, voltada para estudantes de 12 a 13 anos que começam a ter contato com álcool, eram realizadas oito sessões de uma hora cada. A segunda fase, aplicada um ano depois, contava com quatro sessões de uma hora.
Fonte: Revista Exame