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A compreensão dos efeitos potenciais do consumo de álcool, sejam eles benéficos ou prejudiciais, é aspecto importante da prevenção dos danos associados ao uso dessa substância. A elaboração dos padrões de consumo é feita levando em conta tanto aspectos médicos quanto psico-sociais do uso de álcool.
A finalidade dessas diretrizes é a de informar o público em geral de maneira clara e objetiva quanto ao uso de álcool e suas repercussões no indivíduo e na sociedade. Assim, a criação de padrões de consumo de álcool torna-se prática de grande importância na medida em que cria diretrizes que possibilitam a predição dessas conseqüências. Segue abaixo os principais padrões de consumo de álcool mencionados na literatura científica:
Uso Moderado de Álcool
O uso moderado de bebidas alcoólicas é um conceito difícil de definir na medida em que ele transmite idéias diferentes para pessoas diferentes. Comumente essa definição é confundida com beber socialmente, que significa o uso de álcool dentro de padrões aceitos pela sociedade. Ademais, com freqüência a moderação é vista de maneira errônea como uma forma de uso de álcool que não traz conseqüências adversas ao consumidor.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que para se evitar problemas com o álcool, o consumo aceitável é de até 15 doses/semana para os homens e 10 doses/semana para as mulheres, sendo que 1 dose* contém de 8 a 13 gramas de etanol.
Os homens não devem ultrapassar o consumo de 3 doses diárias de álcool e as mulheres duas doses diárias, sendo que tanto homens quanto as mulheres não devem beber por pelo dois dias na semana.
A OMS ainda esclarece que em algumas situações, o uso do álcool não é recomendado nem em pequenas quantidades. Dentre elas se encontram:
– Mulheres grávidas ou tentando engravidar;
– Menores de 18 anos;
– Pessoas que planejam dirigir ou que estão realizando tarefas que exijam alerta e atenção como a operação de uma máquina;
– Pessoas em uso de medicações;
– Pessoas com condições clínicas que podem ser pioradas com o uso do álcool como a hipertensão e o diabetes;
– Alcoolistas em recuperação;
O Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos e o Departamento Americano de Agricultura por meio de seu guia em saúde e alimentação2 esclarecem que as bebidas alcoólicas fornecem calorias, mas pouco ou quase nenhum nutriente.
Além deste aspecto, o guia enfatiza que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode produzir efeitos maléficos como a pressão alta, derrames, doenças cardiovasculares, alguns tipos de cânceres, acidentes, violência, suicídio, defeitos congênitos, cirrose hepática e inflamação do pâncreas. O guia sugere que o indivíduo que quiser beber deve fazê-lo com moderação, sendo que um dos efeitos benéficos do consumo moderado é a diminuição do risco de problemas coronarianos. O guia define moderação como não mais que uma dose diária de bebida alcoólica para as mulheres e não mais que duas doses para os homens.
O National Institute of Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) utiliza o termo “beber moderado” para se referir ao consumo com limites onde não há prejuízos ao indivíduo e sociedade. O NIAAA esclarece que o termo “beber moderado” é geralmente utilizado para descrever a quantidade e freqüência do uso de álcool quando comparado ao não uso (abstinência) ou o abuso de álcool, mas enfatiza que estas definições podem ser problemáticas por não levarem em conta as possíveis conseqüências maléficas e benéficas ao individuo decorrentes do uso de álcool a longo prazo.
De acordo com o NIAAA, a definição de consumo moderado pode variar de acordo com o indivíduo e contexto, sendo possível encontrar estudos que falam em consumo moderado de uma dose/dia a 5 doses/dia. O NIAAA aponta que dificuldades relacionadas à definição de uso moderado de álcool é até certo ponto resultado das diferenças individuais, ou seja, a quantidade de álcool que uma pessoa pode consumir sem estar intoxicada varia de acordo com a experiência, tolerância, metabolismo, vulnerabilidade genética, estilo de vida e tempo em que o álcool é consumido (três doses em uma hora produz uma concentração de álcool no sangue muito maior do que três doses no curso de três horas).
*Uma dose equivale a aproximadamente 285 ml de cerveja, 120 ml de vinho e aproximadamente 30 ml de destilado (whisky, vodka, pinga).
Benefícios do uso moderado de álcool
Os benefícios do uso moderado de álcool são assunto de intensa discussão no meio científico. Esse padrão de consumo de álcool está relacionado com uma série de benefícios à saúde. A literatura médica sugere que a moderação está relacionado com a diminuição em geral de mortalidade, com destaque para a diminuição no risco de incidência de doenças cardiovasculares e a diminuição nas perdas cognitivas decorrentes da idade.
Em um estudo realizado com 128.934 adultos entre os anos de 1978 e 1985, Klatsky e colegas constataram que os bebedores moderados de álcool, em especial vinho, apresentaram um menor risco de mortalidade do que os bebedores pesados e do que os abstêmios5. Em outro estudo realizado entre 1995 e 2001, Stampfer e colegas (2005) avaliaram a função mental de 12.480 mulheres de idade entre 70 e 81 anos, com follow-up de dois anos para 11.102 das participantes. As participantes que haviam consumido até 15g de álcool por dia apresentaram melhor desempenho na avaliação cognitiva do que as abstêmias. Os pesquisadores notaram que houve uma diminuição da piora ao longo da evolução de 2 anos na amostra.
Ademais, o uso moderado de bebidas alcoólicas promove redução de estresse e de ansiedade e promove bem-estar.
Malefícios do uso moderado de álcool
Entretanto, o uso moderado de álcool pode também trazer prejuízos à saúde. De acordo com a literatura médica, a moderação no uso de bebidas alcoólicas pode estar relacionada com o aumento no risco de desenvolvimento de alguns tipos de cânceres, em especial o câncer de mama. Há estudos também sugerindo que o uso moderado de álcool está relacionado com o aumento no risco de anomalias fetais, com diminuição no peso e tamanho do feto.
Nota-se, assim, que o uso moderado de álcool pode apresentar tanto conseqüências benéficas quanto prejudiciais à saúde.