Alcoolismo: 10 perguntas e respostas sobre essa doença crônica

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Combate à dependência de álcool pode ser feito com remédio; perceber os sintomas e saber ajudar colaboram para o enfrentamento

10 perguntas e respostas sobre essa doença crônica

O abuso de álcool está relacionado a diversos problemas de saúde e sociais. Foto: rebcenter-moscow/Pixabay

O alcoolismo é uma doença crônica ocasionada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Por causar dependência, a pessoa que sofre com esse problema deixa de se dedicar às suas atividades diárias para se voltar ao álcool em qualquer ocasião.

  • Para lembrar o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, celebrado em todo 18 de fevereiro, o E+selecionou as dez principais perguntas feitas pelos internautas sobre alcoolismo.

As respostas foram dadas pela enfermeira Vivian Toscano da Silva, supervisora técnica de saúde no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III, no Jardim Ângela. Administrado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), o local oferece, entre outros atendimentos, assistência aos familiares de usuários de drogas e álcool com orientação especializada.

Confira a seguir dez perguntas e respostas sobre alcoolismo:

O que é alcoolismo?

Alcoolismo não é o termo mais adequado que se usa, porque carrega uma questão mais negativa, a sociedade olha isso como prejudicial, então chamamos de dependência de álcool. A dependência de álcool é quando a pessoa que faz uso frequente de álcool começa a diminuir as ações diárias dela. Por exemplo: antes trabalhava e começa a faltar, estudava, mas abandona o estudo, começa a ter conflitos na família e a não dar conta de tudo o que é do cotidiano.

Dependentes de álcool abandonam progressivamente os prazeres e atividades cotidianas da vida.

Dependentes de álcool abandonam progressivamente os prazeres e atividades cotidianas da vida. Foto: jarmoluk/Pixabay

Quais os sintomas do alcoolismo?

Socialmente, conflitos na família e problemas no trabalho. Outra coisa é quando a pessoa começa a restringir toda a atividade social em detrimento do uso de álcool, não vai mais a encontros, não participa de festas, só vai aos locais onde tem álcool. Fisicamente, ela pode sentir tremor de extremidades pela manhã, tontura e cãibra em qualquer região do corpo. Ela se sente muito mal quando está sem álcool e quando levanta pela manhã precisa da primeira dose, não por prazer, mas para diminuir o mal-estar. A pessoa pode ainda ter náusea, vômito e, em alguns casos, até crise convulsiva. Há sintomas afetivos também, como irritabilidade, ansiedade, fraqueza, depressão e de sensopercepção, como ilusões e alucinações.

Quais as consequências do alcoolismo?

No longo prazo, pode causar perda de memória, doenças hepáticas, cirrose e desnutrição, deficiência de vitaminas porque não se alimenta direito. Há complicações no pâncreas e alterações gastrointestinais. O álcool é um carboidrato e, dentro do organismo, vai reduzir a fome, e a pessoa vai cada vez mais beber do que se alimentar. Nos homens, pode causar impotência sexual.

Como é feito o tratamento para alcoolismo? Existe remédio?

Existe um medicamento que é o antietanol, o único que realmente combate o álcool. Mas os médicos dão esse medicamento apenas em alguns casos porque, com ele, o paciente bebe menos e pode passar muito mal, o que leva a um problema grave de saúde. O antietanol é prescrito quando o médico tem confiança de que o paciente não vai fazer uso de álcool junto, ele inclusive assina um termo em que sabe dos riscos de juntar os dois. Outros medicamentos vão tratar os sintomas, como ansiolíticos e antidepressivos. O diazepam, por exemplo, é usado apenas nos primeiros dias de tratamento, durante a desintoxicação, porque, dentro do organismo, ele compete com o álcool.

Alcoolismo tem cura? Ou a pessoa sempre corre o risco de ter uma recaída?

No alcoólicos anônimos, a gente usa uma frase que é: ‘só por hoje’. Quando o paciente já tem o diagnóstico, ele tem uma mudança no cérebro chama neuroplasticidade. O cérebro já conheceu aquela substância e mesmo se depois de dez, 20 anos a pessoa tiver contato com álcool, o cérebro vai desencadear sintomas, chamados de tolerância. A pessoa não vai conseguir ficar só em uma dose e vai querer ‘tirar o atraso’. Pensando nisso, a cura está em não beber. Hoje, a gente lida com redução de danos, e a medicação para reduzir o consumo é prescrita até a pessoa parar de beber. É diferente daquele que só abusa do álcool e não é dependente, consegue ficar uma semana sem beber.

Uma dose de bebida alcoólica por dia não indica dependência, mas há chances de se tornar.

Uma dose de bebida alcoólica por dia não indica dependência, mas há chances de se tornar. Foto: rawpixel/Pixabay

Quem bebe cerveja todos os dias é alcoólatra?

Não necessariamente. Não podemos determinar só pela frequência e quantidade consumidas. O diagnóstica inclui parte do social também. Quanto mais o paciente não dá conta, não consegue trabalhar, tem a vida comprometida, mais tem inclinação para ser dependente. Mas há questionário em que se apresentar três de sete critérios já pode considerar dependente de álcool. Por outro lado, há chance de em uma dose de vinho ou de whisky por dia desenvolver dependência.

Como identificar um dependente de álcool?

Identifica-se pelos prejuízos sociais, principalmente, mas também pela pessoa que se separa da família, não aguenta mais, perdeu o emprego, largou o estudo. Um dos sintomas da dependência é o abandono progresso dos prazeres e dos interesses alternativos, ou seja, de tudo o que faz na vida. 

A própria pessoa consegue identificar que está se tornando dependente do álcool?

É muito difícil acontecer. A pessoa tem a ilusão de que vai parar quando quiser, mas, normalmente, não são todos os casos. Ela sofre uma pressão psicológica por parte das pessoas ao redor para parar de beber, mas essa percepção é subjetiva, que ela nega.

O dependente de álcool dificilmente percebe que o caso tornou-se patológico.

O dependente de álcool dificilmente percebe que o caso tornou-se patológico. Foto: rebcenter-moscow/Pixabay

Há tipos de alcoólatras?

Temos casos leves, moderados e graves. Quem convulsiona é considerado o mais grave. Os outros dois são mais perceptíveis durante a entrevista. Aquele que percebe e ainda está no trabalho, tem problemas, mas está seguindo é leve. O moderado muitas vezes já perdeu o emprego e o grave, além de tudo isso, tem sintomas clínicos mais graves.

Como ajudar um dependente de álcool?

Tem de ser sutil, com alertas em forma de perguntas. Por exemplo: “Você já percebeu que perdeu o emprego por causa do álcool?”. Tem de ser de forma respeitosa e menos invasiva, respeitando a pessoa no seu dia a dia, ‘colocando a pulga atrás da orelha’. Quanto a tratamento, perguntar se ela já pensou em parar de beber, mostrar as consequência da bebida na vida dela. Tem de fluir com a pessoa, fazendo-a perceber os prejuízos de forma gradual. A intenção é fazer refletir. Quando a pessoa percebe e aceita que precisa de tratamento, tem de levá-la na hora [a um centro de ajuda], pois ela pode ter o sintoma da ambivalência, em que quer e ao mesmo tempo não quer parar de beber.

Fonte:
LUDIMILA HONORATO – O ESTADO DE S.PAULO

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