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A cada 20 minutos, uma pessoa é internada em hospitais públicos de São Paulo com alguma doença ocasionada pelo abuso do álcool, segundo levantamento da Secretaria Estadual de Saúde. O estudo não inclui as internações causadas por acidentes de trânsito.
De acordo com o levantamento, os transtornos mentais e comportamentais, como as síndromes de abstinência ou dependência química e os transtornos psicóticos são responsáveis por 87% das internações. As 13% restantes – o equivalente a 300 casos por mês -referem-se às doenças alcoólicas do fígado, como cirrose, insuficiência hepática e hepatite.
“O alcoolismo é uma doença silenciosa e leva anos para se manifestar”, alerta a médica Rosângela Elias, coordenadora de saúde mental de álcool e drogas da Secretaria Municipal de Saúde. Ela é também a única doença da qual o portador não busca ajuda porque não admite a dependência. “Infelizmente, o doente diz que bebe para descontrair e pode parar no momento que quiser”, lamenta.
Rosângela afirma que o apoio da família é fundamental para a recuperação, embora o índice de recaída fique em torno de 60%, mesmo quando a busca por tratamento é espontânea.
MORTES
O alcoolismo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), já é a segunda doença que mais mata no mundo depois do câncer: 3,2% do total de mortes. No Brasil o número é ainda maior: 10% da população, ou 19 milhões de pessoas morrem por ano devido ao excesso de bebidas, de acordo com estudo da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Universidade Federal de São Paulo.
Pesquisador da Uniad, o psiquiatra Nino Meloni explica que há fatores, mesmo genéticos, que fazem certas pessoas se sentirem bem ao consumir álcool. A sensação passageira de euforia ganha coro na sociedade, que por questão cultural não a vê como droga perigosa que causa dependência e mata.
O psiquiatra lembra que o país é o quarto produtor mundial de cachaça, com 200 milhões de litros comercializados anualmente, dos quais 195 milhões consumidos somente no mercado interno. “Produzimos e consumimos o mesmo volume de pinga que uísque. A diferença é que uísque é consumido mundialmente e a pinga somente no Brasil”, diz.
E arrisca uma explicação: “A pinga é mais barata que o leite”.
O álcool, diz o médico, é porta de entrada para outras drogas. Nas clínicas de recuperação, cerca de 55% das internações são decorrentes de alcoolismo. “Isso não significa que estejam diminuindo. A proporção é menor que nos anos anteriores porque aumentou o número de dependentes em crack”, diz.
Recaída de 30%
Pelo menos dois em cada 10 pacientes submetidos a transplante de fígado têm cirrose hepática provocada pelo consumo excessivo de álcool. Contudo, o índice de recaída ainda é muito alto: chega a 30%, segundo o médico Carlos Baia, coordenador dos transplantes de fígado da Secretaria Estadual de Saúde.
Na semana passada, médicos do Hospital Albert Einstein sugeriram o procedimento ao ex-jogador Sócrates como alternativa de cura. Sócrates segue internado na UTI e seu estado é considerado estável. O sangramento, digestivo, segundo os médicos, está estancado.
O médico explica que o álcool inflama e destrói gradualmente as células do fígado. A cirrose se caracteriza quando o órgão é tomado por pequenas cicatrizes. As complicações decorrentes da doença também são lentas e a pessoa só percebe quando ela já está em nível avançado.
Os principais sintomas são acúmulo de água na barriga, inchaço nas pernas, confusão mental, câncer e hemorragias digestivas. A estimativa é de que pelo menos 15% dos alcoólicos atinjam essa etapa ao beber durante um período de 10 a 15 anos.
Hoje, a prioridade do transplante varia de acordo com a gravidade da doença. Cirrose tem prazo de espera mais longo.
Fonte: Rede Bom Dia