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Em entrevista exclusiva, o psiquiatra Dartiu Xavier, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), orienta sobre como manter o consumo dos nossos filhos sob controle.
Em uma mesa de bar ou em uma balada, amigos se reúnem para conversar e… beber. Grande parte ainda não completou dezoito anos. Às vezes, exageram. Esse cenário é cada vez mais freqüente no Brasil, onde 46% dos adolescentes entre 14 e 17 anos consomem bebidas alcoólicas.
O dado é de um estudo recente da ONU, que mapeou a ingestão de álcool entre os jovens de nove países da América Latina. O resultado foi trágico: ficamos atrás apenas da Colômbia, com 51,9%, e do Uruguai, com 50,1%.
Antes que os pais se perguntem aonde estão errando, o psiquiatra Dartiu Xavier, professor da Universidade Paulista de Medicina, Unifesp, observa: uma conjunção de fatores é responsável por esse comportamento.
“A adolescência é uma fase de curiosidade identificada com a procura de sensações, pela experimentação, e, muitas vezes, pela falta de limites”, diz.
O consumo cresce significativamente a partir dos 16 anos, principalmente entre os meninos. “Quando bebem, eles são motivo de aplausos”, afirma o médico.
Apesar das meninas serem minoria nas estatísticas, elas também sofrem com o abuso de álcool de forma direta e indireta. Em busca de liberdade e diversão, as garotas engrossam os atendimentos em prontos-socorros por causa de bebedeira. Quando não estão embriagadas, se acidentam porque pegaram carona com um motorista alcoolizado.
Em um momento de transformações intensas, os jovens encontram dificuldades que, em algumas circunstâncias, procuram manejar com a bebida. Eles bebem para adquirir a coragem que falta, para diminuir a ansiedade, ou mesmo para aliviar a depressão, que pode não ser diagnosticada corretamente porque é confundida com a rebeldia da idade”, explica Dartiu.
A banalização do uso de álcool, que atinge 15% da população geral, faz com que os pais se preocupem com as drogas ilícitas e se esqueçam da prevenção em relação às droga legalizadas, como a bebida e o fumo.
“Sempre chega ao meu consultório uma família que pegou o filho fumando maconha. Em geral, ele fuma maconha uma vez por mês. Mas bebe, até cair, três vezes por semana. O álcool não costuma mobilizar os pais da mesma forma”, alerta o psiquiatra.
A conversa franca e aberta é sempre a melhor saída para impedir que a característica de experimentação, típica da adolescência, acabe por promover a irresponsabilidade. Mas para que isso dê certo, vale mais alertar para os riscos do que proibir. “Explique que não podem beber todos os dias, não podem ir para o bar quando têm aula e os oriente quanto à dosagem”, aconselha.
Acima de tudo, é importante estabelecer uma relação de confiança e apontar alternativas. Um exemplo: se um dia, o filho exagerar, ele precisa ter a certeza de que pode ligar para a família. Os pais devem deixar claro que irão buscá-lo. Melhor isso do que o jovem dirigir embriagado ou pegar carona com qualquer um.
Procure mostrar que não se deve misturar bebidas e que, quando bebemos álcool para matar a sede, as chances de exagerar são ainda maiores. “Mas não se trata de propor uma lei seca. É comum e normal que um adolescente erre a mão e extrapole vez ou outra. O que não pode acontecer é isso se tornar uma regra”, afima Dartiu.
Fonte: Revista Cláudia