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Unir bebida alcoólica e energético é comum nas festas e bares. Porém, essa combinação pode ser muito prejudicial à saúde e, pior, pode prolongar a vontade de beber. Segundo um experimento conduzido por pesquisadores da Austrália, a mistura aumenta a vontade de continuar bebendo. Eles acreditam que esse efeito pode ser resultado da ação de substâncias presentes na composição do drinque e alertam que os resultados da pesquisa já servem de base para a discussão de possíveis mudanças na venda desses estimulantes.
A suspeita de que energéticos misturados ao álcool aumentam o desejo pela bebida ronda o meio científico há tempos, segundo Rebecca McKetin, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Universidade Nacional Australiana de Pesquisa sobre Envelhecimento, Saúde e Bem-estar. “A cafeína presente nessas bebidas aumenta os efeitos estimulantes da intoxicação alcoólica. Chamamos isso de beber em binge, que é o surgimento da vontade de continuar a beber logo depois da primeira dose”, explica.
O estudo foi publicado na revista americana Alcoholism Clinical & Experimental Research. “Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos encontrou efeito semelhante, mas as pessoas estavam céticas em relação aos resultados. Por isso, a nossa replicação desse dado é importante”, destaca McKetin.
Os cientistas da instituição australiana selecionaram 75 participantes (46 mulheres e 29 homens), com 18 a 30 anos. Elas receberam duas misturas: um coquetel contendo 60ml de vodca e uma lata de bebida energética, e outra com 60ml de vodca e soda. Minutos após a ingestão, responderam a um questionário sobre a vontade de continuar a beber álcool. A sensação foi maior entre as pessoas do primeiro grupo.
“Nosso estudo, por si só, não fornece provas suficientes para avisos sobre o consumo de energético com o álcool, mas é um passo importante porque aponta a evidência de um mecanismo pelo qual as bebidas estimulantes podem aumentar o consumo excessivo de álcool, além de destacar a necessidade de investigar essa possibilidade ainda mais”, destaca McKetin.
Choque de sensações
Professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Luciana Diniz Silva acredita que o efeito arriscado pode ser explicado pela presença, nos energéticos, de substâncias que incitam o sistema nervoso central a continuar bebendo. “O estimulante, que é composto por cafeína e taurina, associado com o álcool, que é um depressor, forma uma mistura que vai contrabalançar as sensações. Ou seja, a pessoa vai se sentir menos embriagada, permitindo que ela ingira uma quantidade maior do álcool, e aumentará as chances do efeito de intoxicação”, explica.
Yara Aguiar, cardiologista do Hospital do Coração do Brasil, explica que o consumo de energéticos sempre foi uma preocupação para pessoas que sofrem de problemas cardíacos devido ao risco de sobrecarga ao coração, efeito provocado pelas mesmas substâncias estimulantes. “A cafeína e a taurina podem causar o aumento da frequência cardíaca, palpitações e arritmias quando ingeridas em excesso, principalmente em pessoas que não sabem que têm problema (cardíaco)”, completa.
Restrições pelo mundo
A mistura entre álcool e energéticos tem sido uma preocupação tão recorrente entre autoridades de saúde pública que a venda da bebida estimulante vem sofrendo severas restrições pelo mundo. Peter Miller, professor associado de psicologia na Universidade de Deakin, na Austrália, destaca uma recente proibição da Lituânia com relação ao comércio desses estimulantes para menores de 18 anos. “Já na Austrália, a embalagem precisa conter um aviso alertando que as pessoas não consumam mais do que duas latas de 250ml por dia do produto, que nunca deve ser ingerido por crianças, grávidas e pessoas com problemas cardíacos”, complementa.
Segundo Luciana Diniz Silva, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as restrições na França foram adotadas depois que um jovem de 17 anos teve problemas de saúde por ingerir uma grande quantidade de energéticos. “O que nos deixa preocupados é a pouca informação fornecida às pessoas quanto ao efeito dessas bebidas caso sejam consumidas em excesso.”
Há energéticos que têm uma quantidade de cafeína três vezes maior do que a de uma xícara de café, segundo a cardiologista Yara Aguiar. De acordo com um estudo da Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), uma lata de energético concentra de 50mg a 500mg da substância, enquanto que uma xícara de café tem de 75mg a 150mg. No Canadá, o produto pode ter até 180mg de cafeína. No Brasil, 80mg. Alguns estados pedem na Justiça a proibição da venda da bebida para menores de 18 anos.
Fonte: Diário de Pernambuco