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Normalmente o alcoolismo se manifesta em homens acima de 40 anos, que começaram a beber ainda na adolescência.
No entanto, as estatísticas comprovam que o número de adolescentes dependentes do álcool é crescente. Na região Nordeste, o índice de dependência entre adolescentes de 12 a 17 anos é de 5,7%, considerado o mais preocupante em todo o país.
“No Piauí não é muito diferente.
Nós já atendemos jovens de 12 a 13 anos que apresentam sinais de dependência. Isto quer dizer que eles começaram a beber por volta dos 8 anos de idade”, destacou o psiquiatra Mauro Passamani, coordenador do CAPS – AD (Centro de Apoio Psicossocial – Álcool e Drogas) de Teresina.
A facilidade de acesso às bebidas alcoólicas é um dos principais fatores responsáveis pelas estatísticas. “Numa sociedade onde só se fala em álcool é difícil deixar os jovens fora disto. E em 100% dos casos o uso do álcool está associado ao cigarro”, destacou o psiquiatra Ralph Trajano, que também atende no CAPS.
Segundo ele, os dependentes químicos vivem um processo de escalada, onde começam pelo álcool, passa pela maconha e termina no craque, a droga mais devastadora.
“O craque é bem mais barato que a cocaína, que é consumida entre jovens de classe média alta. Alguns relatam que compram uma pedra de craque por R$ 1”, disse. O médico afirma ainda que algumas profissões estão mais suscetíveis ao uso de drogas, principalmente quem trabalha à noite.
“Já atendemos mototaxistas que consomem craque, tanto em Teresina como em Timon. Eles alegam que não usam a droga durante o trabalho. A vida noturna acaba favorecendo o contato com estas substâncias danosas”, diz Ralph.
Os homens, segundo dados do CAPS, são os que mais procuram ajuda. “Os homens representam 80% do nosso atendimento. As mulheres não costumam procurar”, diz o psiquiatra. Teresina só possui um CAPS-AD, situado no bairro Monte Castelo, que atende até pessoas de outros municípios. Só em junho foram 284 pessoas atendidas.
Estas pessoas são acompanhadas por uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, assistentes sociais, clínicos e psiquiatras. “Eles passam o dia aqui e à noite retornam para casa. Depende muito mais de uma mudança de hábitos do que de medicação. Eles simplesmente precisam parar de usar a droga”, destacou. Os medicamentos distribuídos são para inibir o uso da droga, sendo que as recaídas são previsíveis, já que a dependência química é uma doença crônica.
Além de doenças de pele e problemas gástricos, muitos dependentes de álcool chegam ao CAPS depois de um acometimento mental. “Nestes casos eles passam o dia no CAPS e à noite são levados para o Sanatório Meduna. Em outros casos, o encaminhamento é feito para hospitais dos bairros”, afirmou o médico.
Mesmo que alguns dependentes necessitem de interna-ção, não há nenhuma comunidade terapêutica inserida na rede de atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde). As comunidades – conhecidas como fazendas – no geral são particulares e apesar de alguns se declararem filantrópicas é necessário pagar uma mensalidade por cada interno.
“Em algumas ocasiões o Governo arca com a despesa. No entanto, deveria ter uma comunidade inserida na rede de atendimento. Esta seria uma alternativa para quem é acompanhado durante o dia, mas com a noite livre acaba voltando a usar drogas”, disse Mauro Passamani.
Fonte: 180º Graus