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No mês dedicado à mulher, a psicóloga Ana Café fornece informações e dados sobre a alcoolismo feminino. Ela dá esclarecimentos através de perguntas e respostas e recomenda um questionário, disponível na página do grupo Alcoólicos Anônimos (www.aaonline.com.br), de ajuda mútua e reconhecido internacionalmente, para mulheres se auto avaliarem quanto à sua relação com o álcool. De acordo com ela, historicamente as mulheres exibem índices mais baixos de alcoolismo que os homens, mas isso está mudando rapidamente.
“O alcoolismo, ou dependência do álcool, é um problema crescente para as mulheres. Em geral, as mulheres são mais propensas ao alcoolismo em comparação aos homens, devido a sua composição corporal. Como as mulheres tendem a pesar menos que os homens e o álcool permanece no corpo por mais tempo, uma mulher comum pode consumir a mesma quantidade de álcool que um homem, mas sofrer um impacto maior”, adverte.
As últimas pesquisas internacionais sobre o assunto mostram que em geral os consumidores de álcool do sexo masculino consomem quase duas vezes mais esse tipo de bebida em excesso do que as mulheres. Mas isso não se aplica, especificamente, aos mais jovens. Na verdade, as mulheres nascidas entre 1991 e 2000 bebem tanto quanto os homens da mesma geração – e podem vir a superá-los.
Ao mesmo tempo, elas estão sofrendo cada vez mais com os efeitos nocivos do álcool. Estudos mostram que, de 2000 a 2015, houve um aumento de 57% na taxa de mortalidade por cirrose entre mulheres de 45 a 64 anos nos Estados Unidos, comparado a um percentual de 21% entre os homens da mesma idade. Na faixa dos 25 aos 44 anos, a alta foi de 18%, enquanto, entre o sexo masculino, houve uma queda 10%.
Ao mesmo tempo, o número de mulheres adultas que dão entrada em emergências de hospitais por overdose de álcool também está subindo de forma alarmante. Um dos principais motivos são os padrões de consumo de risco, que vêm aumentando, particularmente, entre o sexo feminino.
Ana Café concorda que o público consumidor do sexo feminino tende a experimentar efeitos adversos e desenvolver adicção relacionada ao álcool mais rapidamente do que o público masculino. “Além disso, a mudança dos costumes sociais está tornando mais aceitável e, em muitos casos, encorajando mulheres de todas as idades a beber. A combinação de mais mulheres bebendo com cada vez mais consumidoras sendo afetadas pelo álcool, tem criado uma epidemia de saúde preocupante entre as mulheres”, lamenta.
Alcoolismo feminino retratado no cinema
O assunto envolvendo mulheres e álcool é retratado em diversos filmes, como A Garota No Trem (alcoolista interpretada por Emily Blunt); Quando Um Homem Ama Uma Mulher (interpretada por Meg Ryan); Smashed (com Mary Elizabeth Winstead) e O Casamento de Rachel (alcoolista interpretada por Anne Hathaway).
Já está mais do que provado, segundo especialistas, que o alcoolismo não faz distinção de gênero, raça ou posição social. Entre as celebridades que já declararam ter problemas com consumo excessivo de álcool, e deram exemplos para a recuperação da saúde, estão: Kristin Davis, Eva Mendes, Lana Del Rey, Lucy Hale, Naomi Campbell e Bárbara Borges.
Mulheres e o “binge drinking”
A expressão “Binge drinking” é o consumo de uma grande quantidade de álcool em um curto período de tempo. Para as mulheres, o consumo excessivo de álcool é definido como quatro ou mais doses em menos de duas horas. O “binge drinking” é uma epidemia em bares e universidades e é um problema cada vez maior para as mulheres.
Ana Café alerta para alguns dos maiores riscos do “binge drinking” para mulheres: maior risco de abuso do álcool e alcoolismo; desidratação; decisões impensadas, precipitadas e equivocadas; suscetibilidade à agressão sexual e violência doméstica; comportamentos imprudentes e arriscados; danos hepáticos; náuseas; desrespeito à questões legais, como a grave infração de beber e dirigir; más decisões financeiras; tendência ao suicídio; coma alcoólico e morte.
A psicóloga lembra ainda que muitas mulheres que praticam o “binge drinking” não são alcoolistas, mas são consideravelmente mais propensas a adquirir a doença. “Especialmente se o beber exagerado for mantido por um longo e contínuo período de tempo”, alerta.
Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)
O fenômeno é destacado por especialistas como um dos problemas mais graves rem relação ao alcoolismo feminino, que causa danos físicos e mentais a uma criança devido à exposição ao álcool enquanto ainda está no útero da mãe. Algumas características notáveis nas crianças são: características faciais anormais, dificuldades de aprendizagem, deformidades ósseas e articulares, defeitos cardíacos e hiperatividade.
Outros riscos para a saúde das mulheres, por conta do excesso de álcool: problemas de saúde mental como depressão e ansiedade; doenças cardíacas; várias formas de câncer (mulheres que ingerem cerca de uma dose de álcool por dia têm uma chance maior de desenvolver câncer de mama em comparação com as mulheres abstinentes); danos cognitivos, comportamentais e fisiológicos; doenças cardíacas e hepáticas; sobrepeso e obesidade.
Não existe limite seguro para o consumo de álcool, mas, segundo recomendações do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), os limites de consumo de baixo risco entre as mulheres consideradas sadias, incluem as duas indicações a seguir, que são necessidades complementares, não excludentes: não consumir mais do que sete doses de álcool por semana e não consumir mais do que três doses em um único dia. Lembrando que um dose de bebida alcoólica equivale a aproximadamente 100 ml de vinho, 30ml de destilado ou 330ml de cerveja.
Perguntas e respostas sobre Mulheres X Álcool, por Ana Café
Álcool e mulheres: uma combinação devastadora?
Se não for tratada, sim, pois mulheres são bem mais vulneráveis do que os homens aos efeitos físicos e emocionais do álcool. O homem possui um índice metabólico maior do que o da mulher e em função disso geralmente o tempo para atingir o estado de embriaguez na mulher é bem menor que nos homens, fora as questões hormonais e emocionais que acabam predispondo a mulher a um desenvolvimento mais rápido de um quadro de alcoolismo. Num homem a doença em geral leva 10 anos de uso para se manifestar, já na mulher são necessários apenas 5 anos de uso abusivo.
“Mulher bebendo é feio? Feio é você quando estou sóbria!” – Esta frase de efeito está na boca da mulherada. É um mecanismo de defesa?
Acho que é uma forma de se defender, sim, de proteger seu direito, que é o mesmo dos homens. Homem bêbado também não é nada bonito nem adequado. Cada um na sua, mas com a consciência de que pior do que a exposição social é a ruína física e emocional que a doença leva. Não é uma doença de gênero, todos podemos desenvolver alcoolismo, o que muda é o tempo e a forma como a doença se manifesta nas mulheres.
Bebida alcoólica corta o efeito da pílula anticoncepcional?
Não tem nenhuma interferência, o que corta o efeito é que as meninas bebem e esquecem de tomar o comprimido. O problema com o uso do anticoncepcional e a bebida é que ambos são metabolizamos pelo fígado, causando assim uma sobrecarga para o mesmo.
Por que a maioria das mulheres prefere bebidas doces?
Acredito que o paladar das mulheres é mais adepto ao doce do que os homens. Geralmente mulheres que não gostam tanto da bebida e sim do efeito acabam aderindo mais as bebidas mais adocicadas, da mesma maneira que os adolescentes. As bebidas doces são uma estratégia da indústria de bebidas para atingir este público. E o pior é que funciona!
Álcool melhora o desempenho sexual e aumenta a libido: verdade ou mito?
Mito. O efeito do álcool reduz a censura, deixando as pessoas mais desinibidas, parecendo estarem mais dispostas e sexualizadas, mas o efeito é transitório. Esta crença baseada num efeito “fake” acaba sendo um verdadeiro problema porquê muitas mulheres quando deixam o álcool têm dificuldade em manter uma vida sexual normal, mas uma boa terapia resolve.
Questionário de auto avaliação: mulheres e álcool
1. Você compra bebidas alcoólicas em lugares diferentes, para que ninguém saiba o quanto você está comprando?
2. Você esconde as garrafas vazias e as joga fora às escondidas?
3. Você planeja com antecedência os “prêmios” que dará a si mesma, bebendo um pouco numa “esticadinha” depois de ter cumprido as árduas tarefas domésticas?
4. Você é frequetemente permissiva com seus filhos, por se sentir culpada pela maneira como se comportou enquanto estivera bebendo?
5.Você tem “apagamentos” periódicos a respeito dos quais não se lembra de nada?
6. De vez em quando, no dia seguinte a uma festa, você telefona à anfitriã e pergunta se magoou alguém, ou se fez um papel ridículo?
7. Você toma um trago ou dois, por via das dúvidas, antes de ir a uma festa onde sabe que serão servidas bebidas alcoólicas?
8. Você se sente mais espirituosa ou mais encantadora quando bebe?
9. Você entra em pânico quando se aproxima um dia em que terá que passar sem beber, como por ocasião de uma visita que fará a parentes?
10. Você inventa ocasiões sociais para beber, tais como convidar amigos para um almoço, um coquetel, um jantar?
11. Quando outras pessoas estão presentes, você evita ler artigos ou assistir filmes ou programas de TV sobre mulheres alcoólicas, porém é isso que faz quando ninguém está por perto?
12. Constantemente você leva alguma bebida alcoólica em sua bolsa quando sai?
13. Você se coloca na defensiva quando alguém menciona seu modo de beber?
14. Você bebe quando está pressionada de alguma forma, ou depois de uma discussão?
15. Você dirige um automóvel, mesmo depois de ter bebido, porém convencida de que tem completo domínio sobre si mesma?
* Especialistas consideram que a partir de três respostas positivas, pode-se considerar que o álcool já esteja sendo um problema na sua vida e que você deve procurar ajuda do AA. Lembrando que a irmandade não impõe nada a ninguém, não tem fins lucrativos e que tem como único objetivo ajudar quem tem o desejo de parar de beber.
* Fontes de ajuda, que podem indicar grupos de AA perto de você, dialogam e orientam:https://www.aaonline.com.br ou www.aa.org.br Outra forma de obter informações e socorro é pelo bate-papo do perfil Amigos Anônimos, no Facebook, com boas informações para viciados ou não em álcool. O AA criou uma espécie de robô virtual, que nada mais é que um chatbot (mensagens automáticas, que interagem com usuários).
É a primeira vez que o AA, por ocasião de seus 70 anos, e que continua primando pelo anonimato, abre atendimento em rede social.
Fonte: Jornal O Dia.
Por FRANCISCO EDSON ALVES