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O álcool, de modo geral, é responsável por 4% do total de anos vividos com incapacitação sendo que a América Latina compreende 9,7% desta estimativa. De acordo com o Centro Americano de Estatísticas em Saúde (National Center for Health Statistics), o “beber pesado”, nos Estados Unidos, é a principal causa de mortes. O álcool também é uma das principais causas conhecidas de mortalidade precoce e fator de risco para doenças crônicas.
Os transtornos relacionados ao uso do álcool, como abuso e dependência, no entanto, constituem somente uma pequena parcela dos problemas decorrentes do álcool. Um corpo crescente de evidências epidemiológicas tem demonstrado, de modo consistente, que o “beber pesado episódico” (considerado como o consumo de 5 ou mais doses de bebida alcoólica/ dia para o homens e 4 ou mais doses de bebida alcoólica/ dia para as mulheres; sendo 1 dose= 360ml de cerveja; 120 ml de vinho e 37 ml de bebida destilada) está associado a uma gama significativa de situações adversas tais como: danos à saúde física, comportamento sexual de risco, gravidez indesejada, infarto agudo do miocárdio, overdose alcoólica, quedas, violência (incluindo brigas, violência doméstica e homicídios), acidentes de trânsito, problemas psicossociais (ex. na família e trabalho), comportamento antissocial e dificuldades escolares, tanto em jovens como na população em geral.
Além disto, o “beber pesado episódico” está associado a um aumento da mortalidade por todas as causas de doenças cardíacas e está relacionado a um risco maior para transtornos psiquiátricos, câncer e doenças gastrointestinais.
Os autores avaliaram o padrão de beber pesado episódico no banco de dados do projeto São Paulo- ECA (São Paulo Epidemiologic Catchment Area Study), realizado na área de captação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Conceito de beber pesado episódico
Beber pesado episódico, também considerado “Binge Drinking” por muitos autores, é definido como o consumo de 5 ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião por homens, ou 4 ou mais doses de bebidas alcoólicas consumidas em uma única ocasião por mulheres.
Amostra avaliada
Foram estudadas 1.464 pessoas residentes dos bairros Vila Madalena e Jardim América localizados na área de captação do Hospital das Clínicas de São Paulo. O instrumento utilizado foi o Composite International Diagnostic Interview (CIDI 1.1) que elabora diagnósticos de acordo com o CID-10. A fim de avaliarmos a validade convergente do construto “beber pesado episódico” verificamos a prevalência de abuso e dependência do álcool para homens e mulheres que faziam uso do álcool neste padrão.
Resultados e Discussão
O beber pesado se mostrou um padrão de consumo comum nesta amostra de adultos de São Paulo; 10.7% da amostra faz uso pesado do álcool, sendo 15.4% homens e 7.2% mulheres.
Entre os bebedores pesados, 2 homens para cada mulher bebem neste padrão. Esta proporção é menor do que a encontrada nos EUA, que é de 3 homens para cada mulher. Uma possível explicação para este achado vem do fato de que as mulheres provenientes destes 2 bairros diferenciados de São Paulo apresentam uma maior aceitação cultural do uso pesado do álcool e estão, portanto, mais expostas a acidentes em geral, acidentes de trânsito, contato sexual de risco, gravidez, prejuízos ao feto. O beber pesado crônico expõe ainda as mulheres a problemas de saúde mental e física e a mortalidade por todas as causas.
Mulheres entre 18 e 44 anos de idade e aquelas que não eram casadas, ou seja, separadas, divorciadas, viúvas ou solteiras, foram as que mais fizeram uso do álcool neste padrão. Entre as mulheres houve um aumento do beber pesado à medida que a escolaridade aumenta. Mulheres donas de casa e aposentadas foram as que menos beberam neste padrão, ou seja, são as mais protegidas aos danos relacionados ao beber pesado.
Entre os homens, o risco de beber pesado esteve aumentado para aqueles entre 18 e 24 anos de idade (1 a cada 3 homens nesta faixa etária bebe neste padrão). O beber pesado se concentrou entre os mais jovens (18 a 24 anos), os quais se mostraram mais expostos a riscos (violência, acidentes de trânsito, faltas ao trabalho). Além disto, as maiores taxas de beber pesado em homens foram observadas entre os homens que nunca se casaram (2.3 vezes mais do que os casados), estudantes (23.3%) e de baixa renda (2 vezes mais do que em indivíduos de alta renda).
Um dado interessante do estudo foi que além da prevalência de beber pesado ter sido elevada nesta população, homens e mulheres faziam uso do álcool neste padrão em um freqüência de 1 a 2 vezes por semana, o que os expões ainda mais aos prejuízos do uso crônico do álcool.
Vinte dois por cento dos homens que bebiam pesado eram dependentes de tabaco contra 10.2% dos que não eram bebedores pesados. Dentre as mulheres, 25.3% das mulheres bebedoras pesadas eram dependentes do tabaco, contra 9,7% de dependência de tabaco nas que não bebiam pesadamente. Outro dado interessante é que 42% dos homens que fazem uso pesado começaram a beber antes dos 18 anos. Devemos atentar para o fato que não somente os brasileiros começam a beber cedo (média de 12 anos de idade) como também estão mais expostos aos prejuízos do beber pesado e conseqüentemente da dependência alcoólica na vida adulta.
Fonte: Álcool e Drogas sem Distorção