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“O pior do alcoolismo é a escravidão, a vida sem sentido e sem um pingo de liberdade. Achava que tinha liberdade, mas o álcool controlava minha vida”, diz a professora Alice Souza*, de 55 anos. Ela começou a beber socialmente aos 19 e se deu conta que estava doente aos 43.
Entrou em contato com o álcool quando passou a sair com os colegas de trabalho para tomar chope após o expediente. Com o tempo, as doses de bebidas diferenciadas, principalmente destiladas, foram aumentando na mesma medida em que o intervalo entre elas diminuía.
“Trocava a faculdade pelo bar e, depois, a abandonei. Acordava sem condição de trabalhar e comecei a chegar atrasada ou a faltar.”
Além de afastá-la dos amigos e ser o motivo de sua demissão, o vício trouxe outros prejuízos. “Cheguei a bater o carro da minha irmã em uma banca de jornal e fugi. Quando acordei, a polícia estava na porta da minha casa. Provavelmente, me envolvia em brigas, porque ficava com marcas roxas pelo corpo e com a boca machucada.
Como eu apagava, não lembro muita coisa, mas dormia na cama dos outros, sem saber quem era, ou acordava em lugares sem ter idéia de como tinha chegado lá. De tanto ouvir que bebia descontroladamente, decidiu provar que tinha controle.
Propôs ficar dois meses sem beber. Cumpriu a meta, mas contava as horas para poder ingerir álcool novamente. “Quando acabou o prazo, bebi tudo que não tinha bebido naquele tempo e percebi que o álcool me controlava. Como o meu cunhado tinha o mesmo problema e conseguiu parar de beber, pedi ajuda à minha irmã.”
O dia 26 de abril de 1997 é inesquecível para Alice. “Era uma sexta-feira. Cheguei ao bar e avisei que aquele seria o meu último porre e foi mesmo”. Na segunda-feira seguinte, foi para uma clínica de tratamento, onde ficou por 20 dias. Passou a frequentar as reuniões do Alcoólicos Anônimos, grupo de apoio aos dependentes do álcool do qual faz parte até hoje. “Eu me conscientizei que sou alcoólatra. “Não posso, não devo e não quero voltar a beber, porque não quero mais ser aquela pessoa que era”.
Três meses depois da internação, sentiu vontade de beber. “Comi uma comida que levava vinho no preparo e senti compulsão. Fui para o meu quarto e fiquei tomando café e pensando em outras coisas. Passou em cinco minutos. Vontade de beber é como a saudade, dá e passa.” Alice voltou à faculdade e hoje é mestre em literatura brasileira.
É professora de francês e português. “Ganho menos do que antes, mas sou feliz. Antes, ganhava mais dinheiro e não tinha nada. Bebi o carro que tinha, a indenização que recebi depois de ser mandada embora do emprego e não tinha casa própria.”
* Nome fictício.