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Todas as drogas psicotrópicas atuam sobre o cérebro, principal órgão do sistema nervoso central.
Há diversas classificações possíveis para as drogas, dependendo do enfoque a que se propõem os pesquisadores ou interessados no assunto.
Cada substância age no cérebro de uma maneira e são utilizadas pela humanidade com propósitos distintos, podendo estes serem lícitos ou ilícitos. Assim, surgiram classificações para organizar tais substâncias e seus modos de consumo
Classificação quanto aos efeitos farmacológicos das drogas
Essa é a maneira de classificar as drogas psicotrópicas mais aceita e difundida. Ela leva em conta o tipo de ação ou efeito que as drogas causam no cérebro de seus usuários (quadro 1).
Quadro 1: Classificação das drogas quanto ao seu modo de ação no cérebro
Drogas depressoras do sistema nervoso central
Drogas estimulantes do sistema nervoso central
Drogas perturbadoras do sistema nervoso central (alucinógenas)
Sob esse ponto de vista, há três classes de drogas: depressoras, estimulantes e perturbadoras (alucinógenas) do sistema nervoso central.
Drogas depressoras do sistema nervoso central
Depressores de ação central ou psicolépticos são substâncias capazes de lentificar ou diminuir a atividade do cérebro, possuindo também alguma propriedade analgésica (quadro 2). Pessoas sob o efeito de tais substâncias tornam-se sonolentas, lerdas, desatentas e desconcentradas.
Quadro 2: Drogas depressoras do sistema nervoso central
Álcool
Benzodiazepínicos (tranqüilizantes ou calmantes)
Barbitúricos (soníferos)
Opiáceos
Inalantes
Drogas estimulantes do sistema nervoso central
Estimulantes centrais ou psicoanalépticos são substâncias capazes de aumentar a atividade cerebral (quadro 3). Há aumento da vigília, da atenção, aceleração do pensamento e euforia. Seus usuários tornam-se mais ativos, ‘ligados’.
Quadro 3: Drogas estimulantes do sistema nervoso central
Cocaína
Anfetaminas & derivados
Nicotina
Cafeína
Drogas perturbadoras do sistema nervoso central
As drogas perturbadoras, alucinógenas ou psicodislépticas são aquelas relacionadas à produção de quadros de alucinação ou ilusão, geralmente de natureza visual (quadro 4). Os alucinógenos não possuem utilidade clínica (como os calmantes), tampouco podem ser utilizados legalmente (como o álcool, o tabaco e a cafeína). Os alucinógenos não se caracterizam por acelerar ou lentificar o sistema nervoso central. A mudança provocada é qualitativa. O cérebro passa a funcionar fora do seu normal e sua atividade fica perturbada.
Quadro 4: Drogas perturbadoras do sistema nervoso central
Mescalina
Maconha (?-9 THC)
Psilocibina (cogumelo)
LSD-25
DMT (Ayahuasca ou Santo Daime)
MDMA (Ecstasy)
Anticonérgicos naturais (lírio) e sintéticos (Artane®, Bentyl®)
O termo psicodélico foi bastante utilizado nos anos setenta, como sinônimo de alucinógeno. Ele surgiu em meio ao movimento hippie e envolto na concepção de que os alucinógenos eram capazes de expandir os estados da mente. Havia uma associação entre alucinógenos e a melhora da sensibilidade, da percepção do mundo, da realidade e da consciência sobre a Humanidade. Abandonado nos últimos anos pelos cientistas, sempre se manteve presente no meio artístico e intelectual, entitulando inclusive movimentos artísiticos desde então. A fim de retratar a origem história desta palavra, um fragmento de um texto de John Cashman (escrito em 1966 com o intuito de apresentar à sociedade norte-americana e discutir com essa o que era o LSD) aparece a seguir:
Enquanto grupo, tais drogas são geralmente conhecidas como alucinógenas, visto causarem transformações na percepção semelhantes a alucinações. Mas o nome é impreciso. Pessoas sob a influência do LSD ou qualquer outra das substâncias naturais tem consciência de que o que estão vendo não é real, é o efeito da droga. Por outro lado, alucinações verdadeiras são aquelas visões em que o paciente realmente acredita naquilo que está vendo. O termo, de qualquer modo, é bastante característico, e é prontamente compreeendido por médicos e leigos.
Num esforço para se adequar ao efeitos reais da droga, o termo psicomimético (o que imita a psicose) tem encontrado apoio nos círculos médicos. Mas esse termo é enganador, na medida em que não diz quais as psicoses ou que os atributos que as drogas são capazes de desencadear diferem acentuadamente da psicose com que são no mias das vezes associados – a esquizofrenia. A esperança prematura de que o LSD e a psicilocibina poderiam conduzir a uma violenta penentração no tratamento e compreensão da esquizofrenia, a psicose mais difundida e que mais tem resistido aos tratamentos, foi, apesar de tudo, abandonada.
Um esforço admirável para dar às drogas dilatadoras da mente uma designação genérica mais apropriada, envidou em 1957 O Dr. Humphry Osmond. Escrevendo nos Anais da Academia de Ciências de Nova York, o Dr. Osmond sumarizou sua busca semântica:
“Tentei achar nome apropriado para os agentes [psicomiméticos] em discussão: um nome que incluísse os conceitos de enriquecimento da mente e alargamento da visão. Algumas das possibilidades são: psicofórico (transformador da mente), psico-hórmico (excitante da mente) e psicoplástico (moldador da mente). Psicozínico (fermentador da mente), com efeito é apropriado. Psico-réxico (explosor do espírito), apesar de difícil, é memorável. Psicolítico (libertador da mente) é satisfatório. Minha escolha recai sobre psicodélico (manifestador da mente), pois o termo é claro, eufônico e não contaminado por outras associações.”
Os três termos estão em uso, não necessariamente de maneira intercambiável. O termo alucinógeno é usado por quase todo mundo. Mas se alguém chama as drogas de psicomiméticas, podemos apostas que pertence à confraria médica. Se usa o termo “psicodélico”, as propabilidades de que seja um adepto do movimento pelo livre uso do LSD. E se, para denominar o LSD, usa somente o termo “ácido”, provavelmente tem o hábito de toma-lo, conhece alguém que toma ou é um leitor do Time que está tentando passar por hippy. Nós nos referiremos ao LSD e ao resto da família como alucinógenos.
(Cashman J. LSD. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1980)
Classificação quanto ao potencial de uso nocivo e utilidade clínica
A Federal Drug Enforcement Administration (DEA) elaborou uma classificação bastante adotada hoje pelos órgãos de saúde pública e vigilância sanitária de todo o mundo. A classificação baseia-se tanto na utilidade clínica da substância, quanto no seu potencial de uso nocivo (quadro 5).
Quadro 5: Classificação do Federal Drug Enforcement Administration (DEA) | |
Classe | Substâncias |
Classe I: Nenhuma utilidade clínica Alto potencial de abuso e dependência |
Heroína Alucinógenos (LSD, mescalina) Maconha |
Classe II: Baixa utilidade clínica Alto potencial de abuso e dependência |
Ópio ou morfina Codeína Opiáceos sintéticos Barbitúricos Anfetaminas & derivados Cocaína Fenciclidina (PCP) |
Classe III: Alguma utilidade clínica Potencial moderado de abuso e dependência |
Paracetamol e codeína combinada Esteróides anabolizantes |
Classe IV: Grande utilidade clínica Potencial baixo de abuso e dependência |
Benzodiazepínicos Fenobarbital |
Classe V: Grande utilidade clínica Potencial muito baixo de abuso e dependência |
Misturas de narcóticos e atropina Misturas diluídas de codeína |
Classificação quanto ao status legal das substâncias
As drogas psicotrópicas podem ser, do ponto de vista legal, consideradas lícitas ou ilícitas. As drogas lícitas possuem permissão do Estado para serem comercializadas e consumidas. As drogas ilícitas não podem ser consumidas e muito menos comercializadas, pelo menos com a anuência do Estado (quadro 6). Os critérios utilizados para determinar as drogas lícitas e ilícitas são mais culturais do que científicos. Isso porque as drogas não são meros compostos farmacológicos. Elas também recebem outros atributos e os valores sustentados por cada sociedade influem nas déias formadas sobre as drogas.
Quadro 6: Drogas lícitas e ilícitas no Brasil | |
Drogas lícitas | Drogas ilícitas |
Álcool Tabaco Cafeína |
Cocaína Maconha LSD Heroína |
É possível notar que entre as drogas lícitas há aquelas que não possuem utilidade médica, mas são consumidas livremente ou com algum controle. É o caso do álcool e do tabaco. Há aquelas que apesar de causarem dependência possuem indicações médicas precisas e importantes. São os calmantes, os analgésicos derivados do ópio e as anfetaminas. Mas há um último grupo, que não possui indicações para uso médico, tampouco destinam-se originalmente ao consumo humano. Tratam-se dos inalantes. Esses compostos orgânicos, presentes nas tintas acrílicas, sprays, corretores de tinta, nos combustíveis, colas, solventes e removedores são causadores potenciais de complicações agudas e crônicas. Seus usuários são principalmente os jovens de classes menos favorecidas. Uma droga lícita que nos rodeia imperceptível e ainda carece de mais atenção de nossa sociedade.
Classificação quanto a origem
As drogas podem ser classififcadas em naturais, semi-sintéticas e sintéticas:
Drogas Naturais
São aquelas extraídas de uma fonte exclusivamente natural, em geral de plantas. Alguns exemplos são a cocaína, a maconha, a morfina, a mescalina e a psilocibina.
Drogas Semi-Sintéticas
São drogas obtidas em laboratório, a partir de uma matriz natural. A droga semi-sintética mais conhecida é a heroína, obtida em laboratório a partir da molécula de morfina.
Drogas Sintéticas
Drogas totalmente obtidas em laboratório, sem a necessidade de precursosres naturais. As primeiras drogas sintéticas psicotrópicas produzidas foram os barbitúricos e as anfetaminas. Há vários opiáceos sintéticos em nosso meio, dentre os quais destacam-se a meperidina (Dolantina®) e a fentanila (Fentanil®). Uma nova classe de drogas apareceu dentro das drogas sintéticas.
São as chamadas designer drugs ou club drugs (quadro 8). A palavra designer significa desenhada, modificada. São drogas sintéticas obtidas por meio da manipulação laboratorial de outras drogas sintéticas, com o intuito de potencializar seus efeitos, minimar reações adversar ou combinar novas sensações. São fruto da popularização e da banalização tecnológica, uma vez que são sintetizadas em laboratórios clandestinos, em escala doméstica. Por serem consumidas preferencialmente por jovens freqüentadores de dance clubs e festas tecno denominadas raves, também ganharam o nome de club drugs.
Quadro 8: Designer drugs ou club drugs
Álcool
MDMA (ecstasy)
LSD
GHB & GBL
2CB & 2-CT-7
4MTA
PMA & PMMA
Quetamina (Special K)
Nitratos (poppers)
Fentanil
Rohypnol®
Anfetaminas & metanfetaminas
Por fim, é importante comentar um conceito bastante presente em nossa cultura: o natural é sempre seguro e saudável. Muitos afirmam não se aproximar da cocaína, da heroína e do ecstasy porque são ‘químicos’, enquanto que a maconha é uma erva, é natural. Se isso fosse totalmente verdadeiro não haveria venenos naturais. Ser da natureza não confere inofensividade a ninguém. Além disso, o organismo interpreta os alimentos e substâncias ingeridos sob a óptica química. Ele absorve moléculas, que uma vez em seus receptores geram determinados efeitos, muitos deles capazes de causar dependência. Não interessa ao corpo se saíram de uma planta cultiva com adubos biológicos ou de uma caixa de medicamento. O tabaco é uma planta de venda lícita. Nem por isso deixa de causar problemas ao organismo.