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Pesquisa da OPAS mostra, por exemplo, que, nos últimos anos, houve aumento na frequência de episódios de consumo excessivo entre elas.
A música sertaneja ganhou espaço de protagonismo nos últimos anos no Brasil e, com ela, nomes como Marília Mendonça e a dupla Maiara e Maraisa ganharam destaque no cenário musical. As cantoras refletem um forte cenário dentro do gênero: elas traduzem a realidade de mulheres que, muitas vezes, usam a bebida para confrontar alguma situação. E não só nas canções elas têm ganhado esse destaque.
Pesquisas comprovam que o consumo de bebidas alcoólicas tem aumentado entre o gênero feminino. Uma dessas pesquisas faz parte da revisão de 68 estudos feita na Universidade New South Wales, na Austrália, que descobriu que as mulheres andam tomando bebidas alcoólicas quase na mesma proporção que os homens.
Outra fonte é do Relatório sobre Consumo de Álcool nas Américas – Organização Panamericana da Saúde (OPAS), que mostra dados comparativos. Nas análises feitas entre homens e mulheres em relação ao consumo de bebidas alcoólicas no Brasil e no mundo, em geral, contata-se que os homens bebem mais, com maior índice de abstenção entre mulheres.
No entanto, a pesquisa mostra que houve aumento na frequência de episódios de consumo excessivo (BPE) de 4,6% para 13% nos últimos anos, entre mulheres. A proporção de mulheres que apresentam algum transtorno por uso de álcool equivale a 3,2% no Brasil, o que representa a maior taxa mundial quando são comparadas todas as regiões, seguida da região composta pelos países europeus.
Há ainda, por fatores de aceitação social e cultural, um estigma para a aceitação do consumo de bebidas entre as mulheres, que ainda é ligada muito à cultura masculina. Mas isso vem se esfacelando com o avançar dos anos. Em diversos países, o padrão de consumo de álcool por mulheres caminha para a igualdade em relação ao padrão masculino, o que preocupa, no panorama da saúde, porque há uma maior vulnerabilidade delas para as consequências negativas do beber.
“Eu tive que admitir minha impotência perante o álcool”, destaca alcoólatra em recuperação
O álcool tem uma forte aceitação social, o que faz ser comum, sobretudo na juventude, que se tenha contato com algum tipo de bebida. Para Socorro Abreu foi assim.Foi no ambiente familiar que ela deu seus primeiros goles de bebida alcoólica. O que começou como forma de interação social, anos depois, se tornaria um grave problema de saúde: o alcoolismo.
Socorro faz parte de um grande espectro da população brasileira: o de pessoas que desenvolve problemas com o álcool. Em 2014, segundo o levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 3% da população brasileira acima de 15 anos era considerada alcoólatra. Parece pouco, mas essa porcentagem equivale a mais de quatro milhões de pessoas.
“Eu só bebi lá para meus 23, 24 anos. Nessa época, morava no Rio de Janeiro, e foram minhas primas que ofereceram. Eu só gastava de beber em casa e já percebia que elas paravam e eu queria continuar bebendo”, relembra Socorro.
No decorrer da vida, ela percebeu que situações de total perca de controle com a bebida começavam a ser cada vez mais frequentes. Já no mercado de trabalho, atuando como agente de saúde, ela lembra de sair e sempre ir direto para o bar. “Eu já ficava esperando àquela hora da saída e ia direto para o bar. Dizia que ia tomar duas ou três cervejas, mas já perdia totalmente o controle. Tinha dias que eu nem mesmo lembrava como chegava em casa”, conta.
Outros núcleos também começaram a ser afetados pela bebida. A família, os amigos, todos começaram a encarar o problema com a devida importância, enquanto ela apenas negava a dependência. Mãe, irmãs e filhos pediam que Socorro parasse com a bebida, solicitações solenemente ignoradas por muito tempo.
Ponto crítico
Mas o uso do álcool foi chegando a “situações críticas”, como ela mesma descreve. “O ponto crítico foi em janeiro de 2005, quando iria ter uma festa da família e eu me comprometi de ir. Nesse dia, comecei a beber e dormi por cima de um amontoado de roupas. Perdi o evento e todos ficaram sabendo da situação. Foi aí que eu vi que precisava de ajuda”, conta.
Nessa época, a irmã de Socorro já participava das reuniões do Alcoólicos Anônimos (A.A.). Para ela, o grupo de apoio foi, realmente, uma porta de entrada para manter-se sóbria. No grupo que funciona na Vila Operária, zona Norte de Teresina, Socorro começou a participar das reuniões que acontecem em uma pequena sala próxima à igreja local e, desde então, segue sem recaídas.
“Minha irmã começou a ir, eu via o problema dela, mas não via em mim. Só que depois dessas situações e pedidos do meu filho, eu decidi ir. Desde então, sou uma alcoólatra em recuperação”, afirma.
Desde então já são 13 anos que Socorro não ingere nenhuma gota de álcool. Fácil? Ela afirma não ser, mas dribla quaisquer situações que a coloquem em contato direto com bebida. Assim como o alcoolismo foi minando vários aspectos de sua vida, com a sobriedade, ela reconquistou avanços profissionais e pessoais.
E o termo ‘em recuperação’ é usado porque, na visão médica, o alcoolismo é uma doença crônica, ou seja, não tem cura. Porém, com tratamento, é possível ter uma vida saudável e sem a necessidade de álcool. Além de conseguir prolongar a vida e recuperar a saúde física e emocional.
Por: Glenda Uchôa – Jornal O DIA