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O comprimido colorido, de motivos divertidos e quase sempre infantis, é apenas a porta de entrada. Na festa eletrônica, o ecstasy é tomando intercalado a goles de bebida alcoólica.
Na mão do usuário, há também um cigarro de maconha. Entre um “tapa” e outro, alguém bate nas costas e convida para um risco ainda maior: a cocaína.
A mistura explosiva de várias drogas revela o hábito de usuários de “balas” nas festas eletrônicas. A constatação foi feita por dois pesquisadores de São Paulo, que estudaram, em situações diferentes, grupos de jovens que tomavam pílulas e freqüentavam raves.
“Nunca vi usuário puro de ecstasy. A chamada “bala” é quase sempre uma compra casada com maconha, álcool e outras drogas. É uma mistura química muito intensa, um coquetel destruidor”, concluiu Murilo Battisti, psicólogo e pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que funciona no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Durante cinco anos, Battisti acompanhou um grupo de 32 usuários de ecstasy. Uma das conclusões é de que o consumidor da droga é jovem, em média 20 anos, classe alta e média alta, universitário e que tem baixa percepção de risco da droga. Ou seja, eles não acreditam nos malefícios da “bala”.
A psicóloga Stella Pereira de Almeida também estudou o assunto e formulou sua tese de doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Ela constatou que quem toma ecstasy é poliusuário. Na pesquisa feita com 1.140 consumidores de “bala”, entre 2004 e 2005, apenas 2,8% disseram que não usa a droga misturada a outras. “O fato é que a interação de drogas aumenta as chances de intoxicação aguda e de ocorrência de conseqüências adversas a médio e longo prazo”, diz ela.
Estudo sobre Aids e “balas”
A relação que pessoas contaminadas com o vírus HIV têm com o ecstasy vai ser alvo de análise num estudo que começa a ser realizado no mês que vem por pesquisadores da Fiocruz. A transmissão da doença por consumidores de “bala”, que acabavam praticando sexo sem preservativo em festas eletrônicas, foi revelada pela série de reportagens de O Dia sobre a explosão do consumo de ecstasy.
O médico e doutor em Saúde Pública Francisco Bastos vai ser um dos coordenadores da pesquisa. Serão 900 entrevistas. “Decidimos incluir todo novo arsenal de drogas, por isso o ecstasy aparece nos questionários, para ver se de fato o que as pessoas com HIV estão utilizando”, explica ele.
Fonte: Dourados Agora