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Cerveja faz bem e pode reduzir os níveis de gordura no sangue, combater a hipertensão e mesmo ajudar no emagrecimento. Estes são os dados que algumas pesquisas vêm apresentando. Mas será que dá para confiar em pesquisas a favor da cerveja? Antes de responder, é bom que você saiba quem está por trás desses estudos.
As cervejeiras estão financiando muitos desses estudos para utilizar como estratégia de divulgação no conceito de que a bebida traz benefícios à saúde, com supostos efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios.
Um bom exemplo é a Fundação Europeia de Pesquisa do Álcool (ERAB) financiou, desde 2003, mais de cem trabalhos relacionados ao álcool e seu consumo. Essa fundação conta com o suporte financeiro de uma associação que congrega mais de 5.000 cervejarias, responsável por mais de 90% do mercado europeu.
A ERAB apoia o congresso Beer and Health (Cerveja e Saúde). Na sua última edição, foram apresentados trabalhos caracterizando os polifenóis da cerveja – classe de moléculas também presentes no vinho e que teriam um papel benéfico no sistema cardiorrespiratório – e também desmistificando da “barriguinha de cerveja”.
Isso só ocorre no exterior? Claro que não. Aqui no Brasil a mesma estratégia de difundir os supostos benefícios da bebida tem sido adotada pela Sociedade da Cerveja, cujo site foi registrado em 11 de outubro de 2005 pela Ambev. A iniciativa, segundo o relatório aos acionistas feito pela Ambev à época, teria a intenção de promover “um espaço de relacionamento com os consumidores”.
Questionada pela reportagem da Folha de São Paulo, a diretora de marketing institucional da Ambev, Stella Brant, diz que a empresa faz parte da Sociedade da Cerveja, ao lado de outros representantes da sociedade, como mestres cervejeiros e sommeliers da bebida. “O objetivo é replicar e divulgar fatos e dados sobre a bebida. Trata-se de um movimento transparente e conhecido pelo mercado”, afirma.
Sobre os possíveis benefícios da cerveja para a saúde, explica ela, a Sociedade da Cerveja se atém a dar visibilidade a estudos e pesquisas desenvolvidos por entidades renomadas. “A Ambev jamais financiou qualquer pesquisa científica a respeito.”
Questão de evidência
A resposta é simples: não há comprovação de que a bebida faça bem e, sim, evidências. “Há evidências para tudo que quisermos. A questão é a qualidade da evidência”, afirma o cardiologista Luis Correa, professor da Universidade Federal da Bahia.
Embora existam trabalhos mostrando os efeitos benéficos de pequenas doses de álcool, não há nenhum estudo controlado de longo prazo. Além disso, esses estudos não conseguem comprovar a causalidade, afirma o médico norte-americano Thomas Babor, editor-chefe “Addiction”. “Eles não excluem outros fatores [como dieta e prática de exercícios] que podem influenciar no resultado.”
Para Ilana Pinsky, professora afiliada da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), “existem algumas evidências de alguns efeitos benéficos em quantidades extremamente limitadas em populações saudáveis, mas as evidências são muito mais claras sobre os efeitos negativos do consumo de álcool sobre todas as populações”.
Fonte: Folha de São Paulo