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Claro que fiquei muito triste com a morte do Sócrates, mas, de forma até egoísta, o sentimento predominante é de alívio.
Isso porque tive a chance de falar para o cara, olhando bem nos seus olhos, o quanto gosto dele.
Precisava me sentar à mesa com o Magrão, reconhecer a importância que ele teve na minha história e recordar momentos especiais que vivemos juntos.
Para mim, era algo fundamental.
Nós passamos muitos anos sem nos falar.
Nunca brigamos, mas havíamos nos separado em decorrência da vida.
Ficaram uma distância e alguns ruídos na relação, por conta de visões diferentes sobre algumas questões.
Mas nunca deixei de amá-lo e precisava lhe falar isso antes de sua partida.
Felizmente, essa oportunidade surgiu por conta das internações anteriores.
Se não tivesse acontecido, agora estaria carregando um peso insuportável.
Parceria
Sem dúvida, foi meu maior parceiro no futebol.
Quando eu era juvenil no Corinthians, eu o tinha como ídolo e costumava ficar ao lado do campo para vê-lo nos treinamentos do time profissional.
Depois, em 1981, fui jogar na Caldense e houve um amistoso lá contra a seleção brasileira.
Fiquei ansioso, não sabia se ele me reconheceria.
Mas o Magrão se lembrou de mim e até tiramos fotos no campo.
No ano seguinte, voltei para o Corinthians e fiz minha estreia contra o Guará sem a presença do Sócrates.
No segundo jogo, ele também não estava.
Só fomos jogar juntos no terceiro, na vitória sobre o Fortaleza, com três gols do Zenon e um do Sócrates.
Eu participei de todos os gols e percebi que daria liga .
A partir dali, formamos uma dupla memorável, com tabelinhas e troca de passes em que antecipávamos o pensamento do outro.
As minhas características combinavam com as dele, nós nos completávamos.
Podíamos até perder, o que faz parte do jogo, mas poucas vezes não rendemos bem juntos.
Cúmplices
Nós também nos identificávamos no aspecto político.
Foi sensacional ter vivido a Democracia Corintiana a seu lado, lutado por eleições diretas para presidente e participado da fundação do PT.
Como jogadores, aproveitamos a popularidade para passar mensagens contra a ditadura militar.
Compartilhávamos também da dependência química: tive problemas com drogas e ele, com álcool.
Pagamos caro por isso.
Sócrates não sobreviveu, mas parte em paz.
Você deixou uma história fantástica, parceiro, e ajudou a tornar o mundo um pouco melhor.
Tínhamos uma estreita aliança…
Vou jogar meu anel fora. Fazer o que com um anel pela metade?
Por Walter Casagrande Júnior – Colunista do Diário de SP
Fonte: Blog Juca Kfouri
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legal, assim o amigo se despedindo, ao mesmo tempo reconhecendo as magicas do outro.