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Das alegrias de um Beaujolais frutado às misérias das ressacas e do alcoolismo, a humanidade sentiu através das eras os efeitos dessa substância poderosa e universalmente consumida, o etanol.
Inúmeras teorias já foram apresentadas para explicar o amor das pessoas pela bebida.
Mas recentemente um pequeno grupo de cientistas começou a explorar a idéia de que a explicação definitiva está no distante passado evolucionário.
Os primatas ancestrais do Homo sapiens eram altamente dependentes de frutas, por isso a nova teoria diz que desenvolveram uma forte atração pelo etanol que ocorre naturalmente nas frutas bem maduras. Essa predileção foi passada para os seres humanos.
A hipótese, proposta por Robert Dudley, da Universidade da Califórnia em Berkeley, foi tema de um simpósio nas reuniões da Sociedade para Biologia Integrativa e Comparativa em Nova Orleans em janeiro. Os cientistas dizem que essa idéia já levou pesquisadores a novos e curiosos campos de investigação, desde avaliar elefantes bêbados e pássaros “alegres” até a estudar florestas cheias de frutos em fermentação.
Dudley, um fisiologista, disse que as substâncias mais viciantes são relativamente novas para a espécie humana. Mas o etanol, diz ele, “tem uma perspectiva histórica mais profunda, que talvez possa explicar alguns dos problemas modernos. Basicamente, eles não surgiram por acaso”. Doug Levey, um ecologista da Universidade da Flórida que também falou no simpósio, disse que a hipótese mostra o poder de se adotar uma abordagem evolucionária da saúde humana, método de pesquisa conhecido como medicina darwiniana.
“Um biólogo evolucionário argumentará que características humanas como a suscetibilidade ao álcool não surgiram recentemente, que há uma base evolucionária para elas”, disse Levey, acrescentando que a hipótese “pode estar certa e pode estar errada, mas nos faz pensar de uma maneira diferente”.
Dudley disse que quando ouviu pela primeira vez a idéia de que a atração dos humanos pelo etanol poderia estar relacionada aos hábitos frutígeros dos ancestrais humanos, lhe pareceu óbvia. “Eu achava que alguém já devia ter pensado nisso”, ele disse. “Mas ninguém tinha.” Pesquisadores dizem que enquanto os seres humanos de hoje são onívoros vorazes, comendo grande variedade de carnes, vegetais e outros alimentos, os ancestrais pré-humanos eram dedicados consumidores de frutos.
Uma atração pelos vapores do etanol que se desprende dos frutos maduros teria sido útil, levando-os até um recurso precioso nas florestas úmidas onde viviam. “Nos trópicos os frutos amadurecem rapidamente”, disse Dudley, comentando que muitos animais podem ser vistos banqueteando-se em uma árvore carregada.
“Quanto mais rápido você a encontrar, melhor.” Os primatas amantes do etanol podem ter sido duplamente recompensados se o álcool agisse como estimulante do apetite, levando-os a procurar mais comida rapidamente.
O álcool também pode ter servido como uma fonte importante de calorias. “Somos programados para ser atraídos para alimentos que eram benéficos a nossos ancestrais, mas muito difíceis de encontrar”, disse Levey, como gorduras, açúcar e, se a nova hipótese estiver correta, etanol. “Na sociedade de hoje podemos criar grandes quantidades desses alimentos”, ele disse. “Mas aí tendemos a consumi-los em excesso.”
Assim como a atração de nossos ancestrais pelo açúcar e alimentos de alto teor calórico resultou nos problemas de saúde atuais, como obesidade e diabetes, dizem os cientistas, a atração outrora benéfica pelo etanol talvez explique o consumo excessivo de álcool. Até agora as evidências dessa hipótese são amplamente circunstanciais.
Por exemplo, Dudley indica que os primatas, que não têm um olfato muito desenvolvido, possuem uma sensibilidade neurológica maior ao odor de etanol que outros mamíferos; seus neurônios disparam ao sentir o cheiro da bebida. Em outro comentário mais anedótico, ele acrescentou que os aperitivos