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Honestamente, não sei se a confissão de Adriano de que tem problemas com o álcool poderá afastá-lo da convocação de Dunga para a seleção brasileira que disputará a Copa do Mundo deste ano, na África do Sul. Sei, apenas, que o Brasil tem problemas na posição de centroavante, até porque Luis Fabiano está longe de ser um craque indiscutível. Talvez esse fato pese a favor de Adriano, desde que, é lógico, ele não se meta em mais confusões, como a que ocorreu na favela da Chatuba, aí incluindo outros dois jogadores do Flamengo, a suposta noiva de Adriano e até mesmo de traficantes, que não queriam, de modo algum, provocar a intervenção da polícia no local. Há uma versão que garante que a moça foi amarrada a um poste (ou uma árvore) para interromper o escândalo que estava fazendo na boca de fumo. A história de Adriano me remeteu a um passado distante, envolvendo Garrincha (1933-1983), que morreu de cirrose em janeiro daquele ano, antes de completar 50 anos em outubro. Garrincha já conquistara o título de campeão do mundo na Suécia, em 1958, quando se apresentou alcoolizado no Maracanã, minutos antes de uma partida amistosa contra a Inglaterra, em 1959. Vicente Feola (1909-1975) mandou Garrincha de volta para casa e escalou Júlio Botelho (1929-2003) em seu lugar. Julinho, por sinal, fez uma partida brilhante, ganhando os aplausos do público. Mas a história do alcoolismo de Garrincha não termina aí. Tanto é que ele foi convocado para a Copa do Mundo de 1962, no Chile, pelo técnico Aimoré Moreyra (1912-1998), e foi decisivo na conquista do bicampeonato mundial, até porque jogou por ele e por Pelé, contundido gravemente na virilha no segundo jogo, contra a então Tchecoslováquia. Mas no Botafogo, Garrincha aprontou poucas e boas. Recordo-me de uma história que me contou Sandro Moreyra (1919-1987) às vésperas de uma partida importante do alvinegro, pelo Campeonato Carioca. Sandro foi buscá-lo em Pau Grande, levou-o para casa e colocou-o debaixo do chuveiro frio a noite toda. Vez por outra, a hoje repórter Sandra Moreyra, filha de Sandro, trazia um café forte para Garrincha beber. Ele se recuperou em parte e no dia seguinte, um domingo, fez uma bela partida pelo Botafogo. Quando foi vendido ao Corinthians, em 1965, Garrincha já não tinha mais jeito. Mesmo assim, Vicente Feola o convocou para a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966 (Garrincha ainda tinha 32 anos), mas de notável fez apenas um gol de falta contra a Bulgária. Mas diante de Portugal, quando o Brasil foi eliminado, sofreu sua primeira e única derrota com a camisa amarela da seleção brasileira (Pelé, contundido, não pôde jogar). O resultado de tantas bebedeiras todos conhecem. Perambulou por vários clubes, inclusive o Flamengo, mas terminou no Olaria e times rigorosamente desconhecidos. Se Adriano, como confessou, tem problemas com o álcool, é bom que se cuide logo, até porque ninguém terá a paciência de aturá-lo gordo e fora de forma e sem o talento indiscutível de Garrincha. Mané Garrincha, além do álcool, ainda tinha o problema da artrose nos joelhos, deformação óssea que o impediu, inclusive, de ser vendido ao Juventus, da Itália, logo após o carnaval que promoveu na Copa do Mundo do Chile.