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Fonte: Terra
A atual conjuntura econômica da Espanha – que amarga uma taxa de desemprego de 24,6% – está afetando a saúde mental dos espanhóis, segundo pesquisas no campo da depressão, do alcoolismo e de problemas sexuais.
Após mais de quatro anos de crise, os problemas se acumulam e vêm sendo detectados por diferentes estudos. Uma pesquisa da Fundação Pfizer, por exemplo, revelou que, em 2010, 44% da população espanhola sofria mais com estresse e tensão do que nos dois anos anteriores. As incertezas em relação ao trabalho e aos rumos da economia representavam a principal fonte de problemas.
Um estudo que está sendo realizado pela Universidade Alcalá de Henares mostra que há mais casos de doenças mentais no país e que o consumo de psicofármacos (remédios para distúrbios mentais) se elevou após o início da crise.
O percentual de espanhóis maiores de 16 anos que sofriam de depressão, ansiedade ou de outros problemas de saúde mental subiu de 13,7% em 2006 para 14,4% em 2009, segundo a médica epidemiológica Maria Auxiliadora Martín Martínez.
Ela fundamentou seu estudo numa comparação entre dados de pesquisas nacionais e europeias de saúde de 2006 e 2009, que evidenciam que os níveis socioeconômicos baixos e a perda de status socioeconômico se associam a piores auto-avaliações de saúde e altos índices de morbidade psiquiátrica, além do aumento de demanda pelos serviços de saúde pública.
Martín também observa que nesse período houve aumento de 2,8% no consumo de tranquilizantes, entre a população maior de 16 anos. A elevação se deu principalmente em mulheres e na população maior de 45 anos. “A percepção de insegurança e a antecipação pessimista do futuro produzem ansiedade e insônia, que podem acabar gerando sintomas depressivos e psicossomáticos”, diz a médica.
Martín explica que o aumento no número de tranquilizantes e antidepressivos vendidos com receita médica nos últimos anos e do número de pessoas que demandam atenção psicológica pode indicar uma relação entre crise e saúde mental.
Ela explica que, mais do que a perda de recursos econômicos, o que mais atinge a saúde emocional pode ser a percepção da perda de apoios externos, como os apoios familiares, trabalhistas ou sociais, incluindo os financeiros, para seguir adiante.
Resultados preliminares de um levantamento similar também indicam esse aumento. O estudo do Instituto para a Pesquisa em Atenção Primária (IDIAP Jordi Gol) e do Instituto Catalão de Saúde mostra que o consumo de fármacos antidepressivos cresceu em 2008, ano de início da crise econômica. Apesar de ainda não divulgar números consolidados, o estudo indica que o aumento entre a população ativa se produziu, sobretudo, em 2010.
Crise abre as portas para o alcoolismo
A falta de perspectivas de trabalho também estaria aumentando os casos de alcoolismo. A Associação de Autoajuda e Informação sobre a Síndrome de Dependência Alcoólica (ARCA), que atua na província de Cádiz, relata um aumento de 39% no número de pacientes no primeiro trimestre deste ano. Desses novos casos, 52% são pessoas desempregadas.
Letícia Fernández de Castro, assistente social da entidade, diz que suas consultas também dobraram com a crise. “A pessoa não tem trabalho, tem ansiedade, se sente improdutiva, com uma sensação de fracasso e tem a bebida alcoólica à mão. A crise facilita a entrada no alcoolismo”, diz.