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Pe. José Nazareno V. Nóbrega
Segundo dados do Ministério da Saúde, da população brasileira, 75% fazem ou já fizeram uso de álcool. E, em se tratando do uso de álcool por menores de idade (12 a 17 anos), 48,3% (2001) e 54,3% (2005), um aumento bastante considerável. Em geral, houve aumento do consumo em todas as faixas de idade (2001-2005).
Obviamente, não precisamos ir muito longe para atestarmos que o aumento do consumo de bebidas alcoólicas pela população como um todo, e, em especial, pelos jovens e adolescentes, é algo evidente.
Dizem-nos os dados: 61% das vítimas de acidentes fatais tinham ingerido bebidas alcoólicas (ABDETRAN, 1997). 50% dos acidentes de trânsito com vítimas estão associados ao consumo de álcool.
Mortes no trânsito (2004): 35.000 (cerca de 17.000 associadas ao consumo de álcool). Já dizia o velho e sempre novo Santo Tomás de Aquino que diante do evidente, não há necessidade de provas.
Basta que observemos, à noite, principalmente, em alguns canteiros nas ruas, praças, barzinhos ou festas em geral, para vermos pessoas bebendo, e – dentre elas – a relevante quantidade de jovens (não só garotos, mas garotas, também!) ingerindo álcool em quantidade tantas vezes abusiva. E – o que é pior – cada vez mais cedo!
Além de reforçar a necessária obrigação do Estado de veicular e promover programas que tenham como meta principalmente a prevenção e tratamento do alcoolismo e dependência química em geral, minha intenção, neste artigo, está longe de querer condenar alguém pelo uso do álcool.
Nem tenho, obviamente, a pretensão de solucionar este gravíssimo problema. Farei apenas algumas reflexões que, creio, podem nos ajudar a traçar pistas que ajudem a nos posicionar diante deste grave problema.
Vivemos numa cultura pós-moderna hedonista e permissiva, onde o respeito aos limites é algo bem pouco vivenciado por muitos. O slogan “Viver sem fronteiras” que nos era veiculado por uma grande operadora de telefonia móvel certamente é – dentre tantos outros – um reflexo da nossa cultura atual. Nos nossos jovens está a semente do amanhã. Mas é fato que estamos imersos nesse grande fenômeno do alcoolismo na juventude, que remonta às décadas de 60 e 70 do século XX, e tem aumentado cada vez mais.
O consumo de álcool (e drogas de um modo geral) é justificado, por alguns, como ritual de passagem (entrada no grupo, na faculdade etc.); ou como procura da independência por parte do jovem; ou, ainda, que é algo social, só para os fins de semana. Será que é mesmo? Quantos jovens começaram sua via dolorosa da dependência química nessas ocasiões? Foi num “barzinho”; foi só uma “cervejinha”, uma “cachacinha” e outros “inhos” e “inhas” que, para muitos, se transformaram num grande problema para o jovem e para sua família. A inversão dos verdadeiros valores humanos e cristãos; e a posterior escolha de contra-valores é também uma das grandes causas desta triste realidade.
Vejo na família, pensada por Deus como “íntima comunidade de vida e amor”, como nos ensina a Igreja na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, e no jovem que – sem deixar de viver a sua juventude – reza, que vai à missa, ao ato religioso de sua preferência; na família que dialoga buscando a aceitação e, posterior, superação dos limites e desafios; e naquela que prioriza e fomenta os valores humanos e cristãos, um porto seguro e uma esperança para nossos jovens. O apóstolo Paulo nos ensina em 1Cor 6,12: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma”. Já nos dizia o grande Mahatma Gandhi: “ser maduro é respeitar seus limites”.
*Pároco São João Batista, Lagoa Seca