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Beber uma cerveja, tomar um vinho ou degustar uma dose de pinga são práticas normalmente associadas à celebração, à alegria. Tanto que na hora do brinde costuma-se dizer: saúde!
O excesso, porém, só tem um nome: doença. As vítimas saem dos bares, de dentro de casa, da turma de amigos. As estatísticas aparecem nos acidentes de trânsito, nas internações hospitalares, nas consultas por dependência.
De acordo com levantamento da Secretaria do Estado da Saúde, publicado com exclusividade pelo JT, os problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas tiram dos cofres estaduais, por hora, R$ 2,5 mil. Em um único dia, são necessários, R$ 62 mil para tratar os efeitos do álcool na Saúde em todo o Estado. Uma média de R$ 1,8 milhão por mês.
Durante todo ano passado, 35 mil pessoas deram entrada nos hospitais de São Paulo e o principal motivo foi o consumo indevido de álcool. Apenas para tratar os pacientes de cirrose, doenças hepáticas e acidentados no trânsito em decorrência da bebida, foram gastos R$ 17,8 milhões. Isso sem contar o atendimento às 267.586 vítimas de dependência do álcool, que somou mais R$ 5 milhões, o que dá um total de R$ 22,8 milhões. Os números abrangem o atendimento nas 451 unidades públicas de saúde do Estado.
“É um erro acreditar que a única vítima do álcool é o dependente. Os reflexos da bebida estão na família que sofre violência doméstica, no jovem que bebeu demais e provocou um acidente, nas doenças físicas, nas psicológicas”, afirmou Luizemir Lago, diretora do Centro de Referência de Tratamento de Álcool (Cratod), órgão ligado à Secretaria Estadual da Saúde. “Por isso, os valores em dinheiro são tão altos.”
Muito cedo
O encontro com a bebida acontece muito cedo na vida dos brasileiros. A primeira dose é experimentada, em média, aos 12 anos. O pai de Matias, 25 anos, apresentou a primeira cerveja ao filho quando o menino tinha apenas 7 anos. Aos 18, havia perdido o controle. “Vi o fundo do poço. Larguei os planos e entrei nas drogas”, conta ele, que há seis meses começou o tratamento em um centro estadual.
Para vencer o álcool, Matias entrou no samba. Tocando pandeiro, além de voltar a ficar sóbrio, ele fez amigos na mesma situação. Um deles é Jaime, 56, que não tem mais memória para saber quando sua relação com o álcool virou doença. Jaime lembra apenas que o pior momento foi quando ficou quatro dias seguidos sem comer, só bebendo. “O álcool não leva a lugar nenhum”, diz ele, que não sabe mais o caminho de volta para casa.
A psiquiatra Camila Silveira, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool de SP, afirma que as doenças físicas ligadas ao álcool, como cirrose e hepatite, demoram cerca de 15 anos para aparecer em quem bebe com freqüência. “Nesse intervalo podem surgir a depressão e comportamento violento. É a fase perigosa, que antecede o alcoolismo.”
Fonte: Fernanda Aranda e Gabriela Gasparin / Jornal da Tarde