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A Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, foi palco nessa terça-feira de bate-papo seguido de noite de autógrafos em torno do livro “Casagrande e Seus Demônios”, livro de Walter Casagrande assinado em conjunto com Gilvan Ribeiro. Apesar do livro já ter sido publicado em 2013, o encontro aconteceu só agora, a pedido do comentarista, que queria trazer o tema à tona em uma conversa com o público. Seus “demônios” e como os enfrenta.
Com distribuição de senha 1h antes do bate-papo, marcado para às 19h, e sujeito a lotação uma pequena multidão de fãs e dependentes químicos se acumulou em frente ao teatro Eva Herz. As quatro primeiras fileiras do espaço foram reservadas para convidados. Entre eles, o vereador Eduardo Suplicy. Uma falta sentida? Baby do Brasil, nova namorada de Casa. O encontro foi ministrado pela jornalista e amiga do comentarista Mariana Godoy.
Minutos antes de subir ao palco, o ex-jogador recebeu exclusivamente o Glamurama no camarim para a entrevista que você confere abaixo.
Glamurama: Por que fazer o bate-papo sobre o livro só agora, anos depois de sua publicação?
Casagrande: “Eu já faço parte de um projeto no Ceará que chama ‘Ceará sem Drogas’, em que giro o Ceará todo dando uma palestra contando a minha história. Uma ação espetacular da Assembleia Legislativa com o problema do estado porque, no Brasil, o governo federal nunca se preocupou com isso. Ninguém tenta fazer um projeto oficial sobre isso. E aí eu tive a ideia de relançar o livro e fazer um debate em SP com profissionais da área pra eu contar a minha história e esclarecer a parte psicológica e ver se assim alguém se mexe pra fazer algo no resto do país como tem sido feito no Ceará.”
Glamurama: O que você acha do projeto de João Dória para o combate às drogas em São Paulo?
Casagrande: “Acho que tudo o que se faz no Brasil é muito pequeno em relação ao adversário que no caso é a droga. O adversário é muito grande. Não é trabalhinho deste tamanho que vai resolver. É preciso combate forte mesmo porque é uma guerra. Tem traficante do outro lado que não quer que as pessoas se recuperem, né ‘meu’? Eles querem que o pessoal se detone porque querem vender droga. E é preciso puxar os caras para o lado do bem. É preciso falar direto com as pessoas. Esclarecer, mostrar a elas o que vai acontecer no futuro se continuar dessa maneira. É assim que a situação vai melhorar.”
Glamurama: Você é a favor ou contra a legalização de drogas?
Casagrande: “Não sou a favor e nem contra. O Brasil tem outras coisas muito mais importantes pra se pensar do que se vai liberar a maconha ou não. Eu quero que resolva a Lava Jato, o Mensalão, a segurança pública, o transporte público, saúde. O que menos me interessa e o que devia menos interessar ao governo é isso. Essa discussão é pra país desenvolvido, o que não é o nosso caso.”
Glamurama: O vício parte da curiosidade. Como enfrentá-la?
Casagrande: “Eu não faço campanha contra a droga porque se eu for falar que a droga é ruim seria uma hipocrisia. A gente só se vicia em coisas boas. Se eu virei um dependente químico, foi porque eu adoro a droga. Então o que eu posso dizer é: você tem o livre arbítrio pra fazer o que quiser. Eu conto a minha história, que começou igual a sua curiosidade e veio parar dentro de uma clínica de psiquiatria, onde eu fiquei um ano. Se é este o risco que você quer correr, que corra. Eu não sou super herói pra falar ‘não faça isso’ ou ‘não faça aquilo’. Isso é bobagem e também não funciona. Esse negócio de ‘diga não às drogas’ não funciona porque ninguém vai dizer ‘não’. É preciso mostrar os riscos e jogar o futuro na mão de cada um. A briga que eu comprei foi essa: eu sou um dependente químico. Eu sei da dificuldade. Eu sei o que quem está usando droga está sofrendo e eu sei a dificuldade pra sair e pra ter uma vida decente. E eu tô conseguindo fazer isso e não vou ficar assistindo de camarote outros dependentes se matando enquanto eu, que sou igual, estou me recuperando. Me sinto no dever de ajudar.”
Glamurama: Você sente uma melhora diária em sua recuperação?
Casagrande: “Sim. Hoje eu tô bem, tô ótimo. E a cada vez que eu faço um evento desse eu fico melhor. Sempre mais seguro.”
Glamurama: Se dar alta um dia e largar o tratamento está nos seus planos?
Casagrande: “De forma nenhuma. Eu faço tratamento há 10 anos e tive por vários anos altos e baixos. Achava que podia beber, que usar um pouquinho não daria nada… Foi de um tempo pra cá que a coisa se estabilizou. Não uso mais, não bebo mais, faço todas as coisas direito e regradas e não vou abandonar [o tratamento] nunca. Eu tô numa fase ótima da minha vida. Está tudo funcionando, e tá tudo funcionando porque eu tô sóbrio. Esse é o detalhe. Minhas conquistas eu devo a minha sobriedade.”
Glamurama: Como é ser um dos comentaristas que mais virou manchete no jornalismo brasileiro?
Casagrande: “Eu vivo a minha vida. Se algumas coisas que eu faço são tão importante assim pra chamar a atenção pública… De algumas coisas eu acho graça e levo na boa. Levo minha vida de forma muito simples. Me dou com todo mundo e não tenho a mínima separação em nada, sabe?”
Glamurama: E quais são seus programas favoritos?
Casagrande: “Amo ir ao teatro e ao cinema. Vejo todos os filmes estrangeiros. O último que vi foi um iraniano chamado “O Apartamento”. Amei!”
Glamurama: Sempre bem acompanhado?
Casagrande: “Sempre bem acompanhado. Tô feliz… repete ele.”
Baby do Brasil foi assunto vetado na ocasião por Casagrande. Já Graziela, acompanhante terapêutica do ex-jogador, falou sobre o namoro: “Ela tem feito muito bem a ele. Foi um encontro de almas”, completou em tom de alívio. “Ela não usa drogas e não bebe. Ele precisava de alguém assim na vida dele. Ela o tem ajudado muito. O acompanha em tudo.”
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Hoje, quase dez anos depois, ele ainda se interna aos domingos e fica na clínica até terça-feira, às vezes quarta, fazendo terapia de grupo e se consultando com psicólogos e psiquiatras. Diariamente, inclusive nos fins de semana, se reúne com sua terapeuta que virou também uma grande amiga, Graziela Maria. Juntos, vão ao cinema, ao teatro às quintas, a cafés, restaurantes e etc. Lembrada por Mariana Godoy durante o debate de que o sacerdócio tornara impossível manter uma vida pessoal, Graziela riu, sem graça, e disse que faz o que gosta.
Fonte : Site http://glamurama.uol.com.br/